Desassossego. Os moradores da localidade da Comeira mostram-se indignados com o tráfego intenso de camiões que servem uma empresa de vidros ali colocada. A Câmara assegura que a situação é provisória.
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Há mais de seis meses que António Garcia, de 65 anos, não consegue dormir uma noite descansado. O sono é interrompido, diariamente, a partir das 4.30 horas, quando começam a entrar e a sair os primeiros camiões com mercadorias da empresa Santos Barosa, situada a escassas centenas de metros da sua casa. "A minha sorte é que já estou reformado e posso dormir umas horitas à hora de almoço, quando a circulação não é tanta", adianta. As queixas do morador são partilhadas por dezenas de outras pessoas que habitam na mesma rua, a António Maria da Silva, na Comeira. Para além do ruído, há habitantes que se queixam de sentir as casas tremer e há mesmo relatos de casos de paredes onde começaram a surgir enormes fendas desde que a circulação de pesados aumentou. É que a via é encostada às edificações, não existindo, sequer, passeios para os peões.
A situação, contam, começou a sentir-se há um ano, quando a Câmara alterou o sentido de tráfego num conjunto de arruamentos, criando um corredor para os camiões, atravessando algumas ruas da Comeira e da localidade vizinha, Picassinos.
Nos últimos meses, dizem, o trânsito de camiões tem aumentado.
"Diariamente, chegam a passar por aqui mais de 80 camiões", contou Elísio Silva, outro morador, acrescentando que o intenso tráfego de pesados tem "estragado, ainda mais, a estrada que já era velha e em más condições".
Rosa Dinis, outra habitante explica que o seu maior receio é ser apanhada num acidente - dizem os moradores que têm acontecido vários, mas sem gravidade - quando tenta entrar e sair com o seu carro da garagem. "Ando sempre com o coração nas mãos", admite.
Os habitantes referem ainda nunca ter recebido qualquer esclarecimento da Câmara. Nem em relação à situação actual e nem antes de ter sido introduzida a alteração de tráfego aos pesados.
E sublinham não estar contra a empresa que, dizem, já ali existia antes da construção da maior parte das habitações. "Achamos, apenas, que deve haver outra solução que não passe por sacrificar o nosso sossego", considera Virgílio Pêssego, outro morador.
Artur Pereira de Oliveira, vereador com o pelouro do Trânsito na Câmara da Marinha Grande, explicou ao JN que a situação de tráfego que se vive naquela zona "é provisória". A Autarquia, explicou, pretende avançar com o alargamento da Rua António Maria da Silva, na zona mais afastada das casas, de forma a possibilitar o cruzamento dos pesados - actualmente e porque a estrada é demasiado estreita, circulam, apenas num sentido. Para além disso, frisou, a empresa de vidros "está a estudar uma alternativa para a saída dos camiões, a partir dos armazéns e até à zona industrial (situada a poucos quilómetros)".
O vereador explicou que a criação do corredor para os pesados foi decidida na sequência das queixas apresentadas por alguns moradores. "O trânsito fazia-se nos dois sentidos e, na zona junto à fábrica, havia alturas em que era impossível a circulação devido ao aglomerado de camiões", disse.