Um juiz considera impedir o Presidente do Peru, Pedro Pablo Kuczynski, de sair do país caso o Congresso decida aceitar a decisão de renúncia apresentada por este, na sequência de acusações de corrupção.
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O pedido de demissão de Kuczynski foi apresentado após a polémica provocada pela revelação de vídeos de curta duração filmados secretamente, divulgados na terça-feira, em que vários aliados do Presidente conservador são vistos alegadamente a tentarem comprar o apoio de um legislador para impedir o 'impeachment' do chefe de Estado.
Os filmes apresentados pelo principal partido de oposição mostram alegadas tentativas do advogado de Kuczynski, um funcionário do Governo, e Kenji Fujimori, o filho do ex-homem-forte Alberto Fujimori, tentando convencer o legislador a apoiar o Presidente em troca de contratos estaduais no seu distrito.
Fontes oficiais do Tribunal anunciaram, hoje, que irão agendar uma audiência para determinar até que ponto Kuczynski ficaria mais vulnerável perante as acusações com a perda da imunidade presidencial.
Os legisladores estão a prever o início de um debate que decorrerá no final da tarde de hoje para decidir o veredicto da demissão de Kuczynski.
O Presidente peruano permaneceu em silêncio durante quatro meses enquanto revelações que acusam a sua empresa privada de aceitar 782 mil dólares (635 mil euros) da construtora brasileira Odebrecht envolvida no maior escândalo de corrupção da América Latina.
Kuczynski negou qualquer delito e afirmou que não teve qualquer envolvimento nos pagamentos efetuados há mais de uma década pela Odebrecht .
No entanto, o Presidente concordou resignar ao cargo na quarta-feira e referiu que espera que esta mudança proporcione ao Peru maior estabilidade.
"Amanhã abandono o meu cargo" mas "vou continuar a trabalhar para o Peru", disse Kuczynski, com a bandeira peruana aos ombros, dirigido aos seus apoiantes, reunidos quarta-feira à porta da sua residência num condomínio privado em Lima.
Alguns legisladores pretendem rejeitar a demissão do Presidente peruano com a intenção de recorrer ao 'impeachment' para gerar uma mensagem mais forte, daí terem agendado uma reunião para hoje em que vão avaliar a possibilidade de recusa por "incapacidade moral".
Quase há duas décadas, o Congresso rejeitou a demissão do antigo Presidente Alberto Fujimori, depois de este ser acusado de responsabilidade por graves violações dos direitos humanos.
Caso se concretize a demissão, Kuczynski torna-se no primeiro Presidente latino-americano a resignar ao cargo, como consequência do escândalo de corrupção da Odebrecht, que admitiu ter pagado milhões em subornos em troca de contratos de obras públicas.