Mais de 200 jornalistas assinaram uma carta aberta para chamar a atenção para os "baixos salários", a "precariedade" e os "constantes burnouts" dos profissionais do setor. Na carta, é salientada a importância destes profissionais para a democracia e a falta de condições dos contratos de trabalho.
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"Não aguentamos os baixos salários, a precariedade, as longas horas de trabalho, a pressão para o imediatismo, os constantes burnouts", lê-se na carta, que declara que é "hora de quebrar o silêncio".
De acordo com o Inquérito Nacional às Condições de Vida e de Trabalho dos Jornalistas em Portugal, de 2023, citado no documento, "cerca de um terço" dos jornalistas "recebe entre 701 e 1000 euros líquidos".
"Mas há mais: 15% dizem ser alvo de assédio moral; quase metade tem níveis elevados de esgotamento, com 38% a declararem ter problemas mentais decorrentes da profissão; e 48% sentem-se inseguros com a sua situação laboral", acrescenta a carta.
O papel do jornalismo na democracia é evidenciado no documento, que realça que "sem contratar mais profissionais, sai-se cada vez menos em reportagem, aprofunda-se e investiga-se pouco. (...) E todo o país perde com isso".
"Não há democracia sem escrutínio dos poderes económicos e políticos, sem informação verificada, rigorosa e diversificada que ajude a tomar decisões informadas", realça a carta aberta.
Os jornalistas admitem que se tornou "insustentável para a maioria" viver em Lisboa e no Porto, "onde está a maior parte das grandes redações". Em consequência dos "baixos salários, já de si incomportáveis", não é possível sustentar os "custos de habitação, alimentação, transportes e saúde".
No caso dos freelancers, estes "têm de escrever artigos à dúzia por semana para pagarem as contas no fim do mês. Por um artigo de investigação que demora meses, há jornais a pagarem 225 euros brutos, dos quais cerca de 40% são para impostos", lê-se no documento.
Em janeiro, os jornalistas aprovaram, por unanimidade, a realização de uma greve geral a 14 de março contra os baixos salários e a degradação das condições de trabalho. A carta aberta apela também a essa paralisação do setor: "Porque há um momento em que não dá mais. Esse momento chegou. Façamo-nos ouvir".