Um quinto dos portugueses (21%) já recebeu algum tipo de formação em literacia mediática, um valor que está abaixo da Finlândia, mas acima da média global, segundo o Digital News Report Portugal 2025 (DNRPT25).
Corpo do artigo
De acordo com o relatório, este valor, embora próximo da média global, continua abaixo "dos níveis observados em países escandinavos como a Finlândia (34%)".
A formação em literacia "é mais prevalente entre os jovens (41% nos 18-24 anos) e entre os que possuem escolaridade elevada (32%), verificando-se também alguma expressão entre os menos escolarizados (26%)".
O DNRPT25 é produzido anualmente pelo OberCom - Observatório da Comunicação desde 2015, publicado a par do relatório global do RISJ - Reuters Institute for the Study of Journalism, da Universidade de Oxford, no Reino Unido.
"A formação em literacia noticiosa associa-se a comportamentos informativos mais ativos: os indivíduos com este tipo de formação demonstram maior interesse por notícias (60% face a 50% da população geral), maior propensão para pagar por notícias online (26% face a 10%) e uma tendência mais acentuada para aceder diretamente a websites de órgãos de comunicação social (24% face a 19%)", refere o estudo.
No que respeita a práticas de verificação de factos, "os formados em literacia para os media recorrem com maior frequência a fontes oficiais (46%), marcas de confiança (44%) e verificadores de factos (28%), demonstrando maior diversificação na utilização de fontes e proatividade na confirmação da veracidade das informações".
Ora, "estes indivíduos participam também mais ativamente no ecossistema informativo", com 86% a afirmar que se envolvem "de alguma forma no quotidiano noticioso (ler, comentar, partilhar ou discutir notícias), face a 74% da população em geral".
Apesar disso, "indicadores como confiança nas notícias, preocupação com desinformação e motivações para evitar notícias não apresentam diferenças significativas entre os que têm e os que não têm formação em literacia para os media, sugerindo que a literacia tem maior impacto nos comportamentos concretos do que nas perceções subjetivas sobre o ambiente informativo", conclui o relatório.
Com trabalho de campo a cargo da YouGov, o projeto inquiriu a nível global em 2025 cerca de 97 mil indivíduos utilizadores de Internet, em 48 países. Este ano, a Sérvia junta-se ao conjunto de mercados globais em estudo, depois da inclusão de Marrocos em 2024. O trabalho de campo decorreu entre 13 de janeiro e 24 de fevereiro deste ano. Em Portugal foram inquiridos 2012 indivíduos.
Media de confiança e fontes oficiais para verificar informação
De acordo com o relatório, a verificação de factos continua a ser uma "prática relevante" entre os portugueses este ano, "mas marcada por forte heterogeneidade nos recursos utilizados e pelas características sociodemográficas dos utilizadores".
A maioria "recorre sobretudo a marcas de notícias da sua confiança (38%) e a fontes oficiais (38%), como sites institucionais, seguidas dos motores de busca (35%) e dos verificadores de factos independentes", como é o caso do Polígrafo (22%), e "uma minoria consulta mais de três fontes diferentes para confirmar informações suspeitas".
Segundo o relatório, "as respostas evidenciam que os jovens (18-24 anos) tendem a diversificar mais as suas fontes, recorrendo com maior frequência a redes sociais, comentários de outros utilizadores e 'chatbots' de inteligência artificial (20% face a 10% da média geral)".
Confiança em notícias cai 10 pontos em 10 anos
A confiança nas notícias em Portugal caiu 10 pontos percentuais entre 2015 e 2025, apesar de manter-se entre os países onde se regista maior confiança (54%), segundo o DNRPT25.
Este ano, "a confiança em notícias em Portugal atinge o seu valor mais baixo desde o início do Digital News Report Portugal, com 54% dos portugueses a declarar confiar em notícias em geral".
Trata-se de "uma descida de dois pontos percentuais face a 2024 e de 10 pontos percentuais face a 2015", o primeiro ano do DNRPT.
"Apesar desta quebra, Portugal mantém-se entre os países onde se regista maior confiança, ocupando o 7.º lugar entre 48 mercados analisados, destacando-se sobretudo pela confiança líquida, é dos países onde a proporção de pessoas que confia em notícias é maior por comparação com a de pessoas que não confiam em notícias", refere o relatório.
10% pagaram por notícias online
"Portugal continua a apresentar uma das taxas mais baixas de pagamento por notícias em formato digital entre os 48 países analisados pelo Digital News Report, com apenas 10% dos portugueses a afirmar ter pagado por notícias online no ano anterior - uma quebra de 2 pontos percentuais face a 2024", segundo o relatório divulgado esta terça-feira.
Esta tendência "confirma o cenário de estagnação observado nos últimos anos, em linha com o que se verifica também em vários mercados europeus, incluindo países tradicionalmente mais fortes em subscrição digital, como a Suécia ou a Noruega", lê-se no relatório.
Em termos globais, "o pagamento por notícias digitais situa-se nos 18%, ligeiramente acima de 2024 (+1 pp.), com a Suíça a destacar-se como uma das poucas exceções a esta tendência de estabilidade, ao registar um crescimento expressivo (+5 pp.)".
Em Portugal, um terço opta pela opção de subscrição contínua de notícias digitais, "embora tenha aumentado a proporção daqueles que acedem a notícias através de serviços que incluem este conteúdo de forma indireta (33%)".
O pagamento por pacotes combinados de impresso e digital também cresceu (23%), assim como o pagamento isolado por artigo ou edição (20%).