
La Chama e El Pana tornaram-se famosos
Foto: Direitos Reservados
"A Melhor Amiga" e "O Amigo" protegeram profissionais sob a ameaça de Maduro.
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Como é possível prender ou torturar jornalistas criados pela inteligência artificial (IA)? A resposta é simples: é impossível. Esse facto enfureceu Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, que não reconheceu a derrota nas presidenciais no verão do ano passado.
Operación Retuit (Operação Retweet) foi o nome escolhido para o projeto de jornalismo com IA. Em parte, é uma referência irónica ao nome que o regime de Maduro deu à sua dura repressão contra os opositores: Operación Tun Tun (Operação Bate Bate).
Nas quatro semanas seguintes às eleições, muito contestadas na Venezuela, os jornalistas locais gizaram uma tática do século XXI para evitarem ser presos: usar avatares de IA para noticiar tudo o que o regime de Maduro considerava impróprio para publicação. Em transmissões diárias, os pivôs de notícias criados por IA contaram ao Mundo tudo sobre a repressão pós-eleitoral exercida pelo presidente contra opositores, ativistas e os média, sem colocar em risco os repórteres por trás das histórias. Os protagonistas foram La Chama e El Pana, que se traduzem como "A Melhor Amiga" e "O Amigo".
Luísa Meireles, diretora da agência Lusa, sublinha que o projeto foi distinguido nos Prémios Rei da Espanha, em março deste ano. Elides Rojas, jornalista venezuelano que já foi preso e torturado pelo regime de Maduro, traçou um cenário negro. O projeto Operação Retweet acabou. Era dirigido pela Connectas, uma plataforma de jornalismo sediada na Colômbia. Quase “não restam meios de comunicação na Venezuela e os que restam estão em modo de sobrevivência. Estão todos sob censura ou são propriedade do regime. Portanto, não há nenhuma aplicação de recursos modernos e muito menos IA. O atraso é do tipo cubano”, afirma, ao JN, Elides Rojas, que agora trabalha para um jornal digital dos EUA.
A iniciativa, agora em banho-maria, envolveu cerca de 20 órgãos de notícias e de verificação de factos venezuelanos e cerca de 100 jornalistas que partilharam conteúdos, que eram transformados em noticiários diários distribuídos por WhatsApp.

