Ben Harper era o nome mais sonante do primeiro dia de concertos da 16.ª edição do Sudoeste. O músico norte-americano partilhou o palco com Vanessa da Mata para "Boa sorte/ Good luck", um dos momentos altos do espetáculo. Esta sexta-feira, todas as atenções vão estar concentradas na estreia a solo de Eddie Vedder em Portugal.
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O regresso de Ben Harper ao Sudoeste insere-se na atual digressão do músico, "An acoustic evening with Ben Harper", que celebra 20 anos de carreira. Ao contrário do que se poderia prever, não assistimos a um concerto acústico na íntegra, apesar de Ben Harper ter protagonizado alguns momentos a solo com a guitarra, como em "Another lonely day". O arranque foi feito com o arranhar de guitarras e bateria bem audível, num estilo rock que pontuou parte do espetáculo, dividido entre momentos vibrantes e intimistas.
Entre as surpresas, "Wide open light", música nova que deverá integrar o próximo trabalho do músico - previsto para janeiro de 2013 -; uma versão de "Atlantic city", de Bruce Springsteen; e um "Happy Birthday" timidamente cantado ao seu camionista e a alguém do público que também comemorava o aniversário esta quinta-feira.
O momento alto da noite, e o mais celebrado, foi o dueto de Ben Harper com Vanessa da Mata. Os portugueses conhecem de cor a letra de "Boa sorte/Good luck" e pela primeira vez ao longo da noite a voz do público fez-se ouvir em alto e bom som. Em cima do palco, a cumplicidade entre a brasileira e o norte-americano era mais que evidente: abraços, sorrisos e palavras cantadas em dois idiomas que pareciam fundir-se num só.
Da Nova Zelândia para Portugal, os Fat Freddy's Drop encheram o palco, com um ritmo a flutuar entre sonoridades de um reggae pleno de incursões por outros géneros. O som dos instrumentos de sopro - trombone, trompeta e saxofone - era exuberante, prendendo a atenção à medida que a banda fundada por Chris Faiumu navegava cada canção.
O regresso de Matisyahu ao Sudoeste alentejano apanhou muitos de surpresa. A imagem de judeu ortodoxo com uma longa barba, cabelo aos canudos e o quipá no topo da cabeça deu lugar a cara lavada, cabelo curto, boné azul e óculos de sol. "É ele? A voz parece-me a dele, mas...", muitos pontos de interrogação surgiam na plateia. É a nova versão de Matisyahu, mas uma nova versão que está longe de ser tão interessante quanto a anterior.
"Portugal, é bom estar de volta", afirmou o músico norte-americano, entre os primeiros temas que se ouviram no recinto. "Sunshine", "Live like a warrior" ou "I believe in love" serviram para apresentar o novo disco, "Spark Seeker", editado este ano. Este último tema foi dedicado à mulher, Talia, com quem celebrou oito anos de matrimónio esta noite. A canção pedia e Matthew Paul Miller - Matisyahu no mundo do espetáculo - cantou-a de olhos fechados e cheio de sentimento.
Depois de "Youth", o músico mostrou que domina a arte do beatbox, seguindo para a velha conhecida "Jerusalem" (2006).
"King without a crown", canção que o popularizou, foi dignamente recebida pelo público, no meio de um repertório que junta, agora, batidas mais roqueiras à fusão de estilos e influências que sempre caracterizaram Matisyahu enquanto artista.
"One day" foi a escolha certa para a despedida: letra repetida pelo público em coro e dezenas de fãs chamados ao palco para queimar os últimos cartuchos em clima de festa.
O britânico Ben Howard foi o primeiro a pisar o palco nobre do Sudoeste, pouco passava das 20 horas. A estreia do músico em Portugal veio acompanhada pelo seu disco de estreia, "Every Kingdom", que foi apresentado à reduzida plateia que ao final da tarde se concentrava em frente ao palco. Apesar de poucos, os fãs de Ben Howard fizeram-se notar, acolhendo com entusiasmo canções como "Only love" ou "Keep your head up".
"É um prazer estar aqui e partilhar o palco com Fat Freddy"s Drop e Ben Harper", disse Howard, que dividiu as suas canções de raiz folk com os três músicos que o acompanham em palco.
Enquanto Ben Howard se despedia do Sudoeste, Ramboiage subia ao palco Groovebox e Freddy Locks ao Reggae Box. Porém, os dois portugueses não tiveram a mesma sorte. O público do reggae nunca abandona o palco destinado a este estilo musical, mas já as batidas eletrónicas de Ramboiage apenas foram ouvidas pelos técnicos de som. O momento foi bastante "sui generis" para um festival, não havendo uma única pessoa a assistir ao set de Vítor Silveira.
O palco Meo Reggae Box só conseguiu entusiasmar com a presença de Max Romeo, The Congos e Lee Scratch Perry. Surgiram cada um na sua vez mas sempre com a mesma banda de base. E transportaram aquela zona para caminhos de outra altitude - algo que o reggae formatado que por ali antes passou não conseguiu. Lee Perry foi o último a surgir em cena, boné decorado com mais medalhas que o Phelps.
A fechar o palco principal, o brasileiro Marcelo D2 despejou o seu rap tingido em rock e reggae com várias visitas ao repertório dos Planet Hemp, a sua antiga banda que gravou o magnífico "Usuário". "Mantenha o Respeito", "Dig dig hempa" ou "Nega do cabelo duro" foram algumas das peças tocadas perante uma multidão que não cessou de dançar.
Na primeira noite de concertos estiveram 26 mil pessoas na Herdade da Casa Branca, na Zambujeira do Mar.