O fiasco francês no Mundial acabou na derrota com a África do Sul (2-1), mas o calvário dos "blues" não terminou ontem. Aguarda-os um país humilhado e revoltado pela mais desastrosa representação desportiva de que há memória na Gália.
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Asterix foi aos Jogos Olímpicos e fez bem melhor do que esta geração de gauleses perdedores, "putchistas" e grevistas. Vercingetorix, o irredutível gaulês que inspirou o herói da BD, deve estar a dar voltas no túmulo. E até mais do que deprimida pela acumulação de péssimos resultados desportivos, a França está é embaraçada pelas tristes cenas ocorridas fora de campo e pelos maus exemplos oferecidos por estes "maus franceses", como lhes chama a imprensa. E eles que deviam ser o paradigma da pátria da igualdade, da solidariedade e da fraternidade.
Pois foi toda esta imagem que foi chamuscada pelo malquisto Raymond Domenech e pelos 23 rapazes que foram jogar o Mundial. E para concluir a afronta, o seleccionador francês voltou a escandalizar os compatriotas. Recusou cumprimentar Carlos Alberto Parreira, quando o treinador brasileiro, seleccionador da África do Sul, lhe estendeu a mão, num sinal de "fair-play", apesar de também a África do Sul ter sido eliminada e carregada pela vergonha de ter sido o primeiro país organizador do torneio a ser afastado ainda na fase de grupos.
Do alto da tribuna do estádio Free State, em Bloemfontein, a ministra francesa dos Desportos assistiu à cena: "É a ilustração da decadência moral", indignou-se Roselyne Bachelot.
"Os responsáveis deste desastre devem prestar contas", acrescentou a ministra. E Patrice Evra, "capitão" de equipa e líder da rebelião dos jogadores, que até foi excluído (ou poupado?) da humilhação final que foi o jogo com a África do Sul, deve ter ouvido a senhora. "Os jogadores estão a pensar renunciar aos prémios...", afirmou o craque do M. United.
O que ele foi dizer. Então eles ainda têm prémios? - pergunta-se a França, abismada com a prevista distribuição dos rendimentos das campanhas de marketing. Mas que marketing, se todos os patrocinadores dos "bleus" estão a dar à sola e a rasgar contratos?
Seja como for, para a ministra dos Desportos, não há margem para perdão: "Os responsáveis por este desastre têm de prestar contas. Esta equipa é um campo de ruínas. Há que reconstruir tudo", insiste Roselyne Bachelot.
A penosa reconstrução caberá a Laurent Blanc, que sucederá imediatamente a Raymond Domenech. Este há-de ficar para a história como o treinador da pior selecção francesa de todos os tempos. E Domenech não será esquecido tão cedo. O último acto de gestão do fiasco foi ontem, mas o calvário prosseguirá na praça pública francesa.
Os "bleus" pernoitaram no luxuoso hotel com vistas para o Índico e voltam hoje a França. Mas não anunciam a hora de chegada a Paris... É possível que cada um regresse pelos mais diversos meios e trajectos, quiçá directamente para férias nos trópicos "calientes". Voltar a França, já, já, talvez não seja boa ideia.