<p>Sem vítimas e com nervosismo, assim começava a primeira Festa do Avante!, em 1976, após forte ataque bombista. Mas para o PCP, o evento, que arranca hoje, sexta-feira, está a ser alvo de outro atentado: a Lei do Financiamento dos Partidos. </p>
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"Liberdade, Nacionalizações, Reforma Agrária, Controlo Operário e Independência Nacional". Estas eram as palavras de ordem no discurso de Álvaro Cunhal, o líder do Partido Comunista Português, na primeira edição da Festa do Avante!, em 1976, nas instalações da Feira das Indústrias, na Junqueira, em Lisboa. Pela liderança do PCP já passou Carlos Carvalhas e, agora, com Jerónimo de Sousa ao leme, os comunistas reafirmam na totalidade - ou quase - aquele discurso inaugural.
"É verdade que já passaram 33 anos sobre essa festa mas, na essência, continuamos a defender esse pensamento", explicou, ao JN, Armindo Miranda, membro da comissão política do Comité Central do PCP, [ver entrevista ao lado], na véspera dos festejos comunistas, que hoje arrancam na Quinta da Atalaia, no Seixal. "Tal como não nos podemos esquecer que para uns sectores da sociedade a festa continua a ser um alvo a abater", salientou o dirigente.
Ora, tem de se concordar que o evento, há 33 anos marcante da rentrée comunista, começou logo por colher antipatias. Mesmo ainda antes de abrir portas.
Pouco passava das 21 horas de 22 de Setembro de 1976 - a primeira edição foi de 24 a 26, tendo depois passado para o primeiro fim--de-semana - quando um atentado terrorista deixou às escuras todo o recinto da festa, além do Alto de Santo Amaro e Belém. "A bomba foi colocada na Avenida da Índia e fez explodir uma cabina eléctrica de transformação, colocando em causa a realização", relembrou Rúben de Carvalho, membro da direcção dos festejos.
"Exigiu um enorme esforço para se arranjar, em poucos dias, um transformador portátil e revelou grande capacidade de resolução de problemas", continuou, garantindo ter-se tratado de "um atentado de Direita". "Ninguém duvida".
A explosão ficou por reivindicar. As autoridades investigaram. Quanto a conclusões, se as houve, nunca se conheceram. E dois dias depois a festa arrancava, tornando-se, desde então, no maior evento político-cultural no país.
Pouco habituados a este tipo de eventos, os que se viram impedidos de entrar no recinto - devido ao valor das entradas - acabaram por se fixar nas barracas improvisadas de farturas, de balões e de comes e bebes, junto à FIL.
Rumando em 1977 ao Jamor e no ano seguinte ao Alto da Ajuda, em Lisboa, a festa não se realizaria em 1987, durante a presidência de Kruz Abecasis (CDS) da Câmara de Lisboa, que se recusou a ceder o espaço, onde hoje se encontra a Universidade Técnica.
É em resposta a este incidente que se inicia a recolha de donativos que levaria à compra da Quinta da Atalaia, por 60 mil contos. "Uma grande reacção", admitiu Rúben de Carvalho, para quem a Lei do Financiamento dos Partidos, entretanto vetada por Cavaco Silva, é um novo atentado à iniciativa. "Tem apenas um objectivo: prejudicar a Festa do Avante!. É uma lei feita à medida. Incluir nas receitas dos partidos todas as iniciativas do partido onde haja uma actividade comercial e ter de ser liquidada por cheque é surreal", acusou.