Partidos centram para já atenções nas medidas fiscais, apoios sociais e PME e falam menos da sua preocupação com o défice. Mas este discurso vai voltar, avisam os economistas,
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A crise económica - e por causa dela o aumento do desemprego e por causa deste a importância dos apoios sociais, do investimento e das PME - marca os programas partidários. Mas os caminhos propostos divergem.
Com mais ou menos pormenor ou profundidade, os programas com que os partidos com assento parlamentar se apresentam a estas eleições centram-se em medidas de combate à crise, que permitam regressar ao crescimento económico. Mais suavizado está o tema da consolidação orçamental. Mas, concordam os economistas ouvidos pelo JN, isso só acontece porque a actual conjuntura não é favorável (politicamente falando) a esse tipo de discursos. Mais cedo ou mais tarde, sublinham, a necessidade de reduzir o défice voltará em força à ordem do dia.
"Conjunturalmente, não é este o tempo para se falar de consolidação de finanças públicas", defende Alberto de Castro, da Faculdade de Economia da Universidade Católica do Porto. Porque a resposta a esta crise exige medidas que aumentam necessariamente a despesa ou tem reflexos negativos na receita (caso dos impostos e da Segurança Social). A mesma opinião é partilhada por João Loureiro, docente da FEP, ao considerar não ser este o "timing" ideal para falar de redução do défice e da dívida pública.
Mas isto não significa que a preocupação com esta matéria não exista. "O défice é seguramente um problema que terá de ser enfrentado mais cedo ou mais tarde", precisa João Loureiro. É este o motivo que leva o PS e o PSD a não se comprometerem com descidas de impostos. Ainda assim, as medidas fiscais são uma das áreas em que PSD, CDU, BE e CDS mais propostas de mudança defendem. Mais parcimonioso nos impostos, o PS aposta antes nos sectores que lhe renderam mais popularidade. "Como foi o partido que esteve no Governo, o PS não pode propor agora grandes rupturas. Os pontos fortes acabam, assim, por ser a componente da inovação e novas tecnologias e as energias renováveis", sublinha Alberto Castro.
Esta aposta na energia merece críticas a Mira Amaral. "O PS está demasiado centrado nas renováveis, mas isso não resolve os problemas do país. Isso é marketing eleitoral", precisa o gestor que é igualmente duro na leitura que faz das propostas dos partidos sobre o apoio às micro e PME. "Com o défice externo que temos precisamos de exportar como de pão para a boca. Por isso, o que interessa é apoiar o sector dos bens transaccionáveis", refere, argumentando que é também por esta via que se combate o desemprego - outra preocupação central dos programas eleitorais e que apontam as mais varias soluções (ver página seguinte). Alberto Castro também não concorda com toda esta concentração nas PME, defendendo que é a qualidade de gestão e não a dimensão de uma empresa que interessa. No investimento público não há igualmente consensos partidários, ainda que na leitura dos economistas a posição do PSD face ao TGV seja a que recolha mais reparos.