O PSD venceu as eleições autárquicas. Contadas as câmaras, os sociais-democratas voltam a afirmar-se como o partido mais influente nos municípios, um grande partido de proximidade por todo o país.
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Vence as eleições por uma margem menor do que seria esperado, com alguns amargos de boca, como em Lisboa, e com algumas vitórias relevantes, desde logo no Porto, onde Rui Rio mantém a maioria absoluta.
Mas a vitória do PSD deixa sem resposta óbvia a pergunta que militantes e analistas colocam: como é que um partido com tão grande implantação local está tanto tempo fora do Governo central? A resposta não é fácil mas passará por questões de liderança - que no PSD há muito não é forte - e também de doutrina - que o PSD desde há uns anos considera ser uma coisa despicienda.
O PS aproximou-se muito dos sociais-democratas e foi até o partido mais votado. A vitória em Lisboa vale muito em termos de significado e o saldo, entre câmaras ganhas e perdidas, é muito positivo, com boas e más surpresas. Mas ambos os partidos mantêm praças fortes emblemáticas.
À parte as excepções que confirmam a regra, estas eleições vieram confirmar que os presidentes em exercício têm "sempre" a vida facilitada nas eleições. Mas o dado de maior realce que resulta destas eleições é que elas vieram repor, se assim pode dizer-se, a ordem a que estávamos habituados e que as recentes eleições legislativas alteraram: os grandes partidos continuaram grandes partidos e os pequenos partidos assim ficaram. Isto apesar de o CDS crescer e de ter, em muitos concelhos, ao lado do PSD, um papel crucial. A CDU sai reforçada, teve resultados genericamente bons, com alguns de grande significado que confirmaram a sua tradicional boa implantação autárquica. É a terceira força nas autarquias. Já o BE teve uma noite eleitoral bem diferente das legislativas, não cumprindo objectivos mínimos. Apontado frequentemente como um partido de elites urbanas, o Bloco cai muito, não conseguindo eleger vereadores em Lisboa e no Porto.
Em termos pessoais, há algumas grandes surpresas: as derrotas de Fátima Felgueiras e de Ferreira Torres no Marco de Canaveses terão uma explicação local clara, já que o facto de se tratar de autarcas a contas com a Justiça não pesou, por exemplo, em Oeiras e em Gondomar. Pela positiva, refiram-se as conquistas de Macário Correia em Faro, cidade que muda de cor a cada eleição, e de Raul Castro em Leiria, onde há muito pontificava Isabel Damasceno. Destaque ainda para Gaia, onde Menezes ronda os 70% e não perde uma única freguesia.
Um número significativo de autarcas ontem eleitos vai agora cumprir o seu último mandato. Isso significa que é tempo também de ajudarem a preparar o futuro. As grandes obras de fundo estão feitas e as autarquias são responsáveis pelo muito que se fez por esse Portugal profundo. Agora, num tempo de crise, com as verbas a escassearem, as câmaras vão precisar de alguma imaginação para bem servir as populações. Mas é esse o seu papel. Não seria mau se as obras de fachada pudessem esperar e abrissem caminho a apoios que as populações necessitam e que as autarquias são as primeiras a conhecer e as mais bem colocadas para rapidamente apoiar. Bom seria se os próximos anos ficassem marcados por um relevante papel das autarquias na criação de apoios sociais que ajudassem a minorar os efeitos da crise.
P. S. - No tom alarve que lhe é habitual, Alberto João Jardim perguntava ontem onde fica o "rectângulo", referindo-se ao seu e nosso país. E acrescentava: "Não conheço". Cavaco já foi à Madeira e fez de conta. Jaime Gama também. Ferreira Leite apresenta-o como um exemplo. É tempo de alguém levar aquilo a sério.