Só num acto eleitoral se viu acompanhado pela GNR na recolha dos boletins de votos no Cadaval.
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Passado o primeiro embate, já lá vão 12 anos, percorrer sozinho as diversas mesas de voto de seis freguesias do concelho limítrofe do distrito de Lisboa - essencialmente rural -, no final de cada dia de sufrágio, passou a ser encarado da forma banal por Edgar Emídio. E não esconde o orgulho: ser dos primeiros a chegar ao Governo Civil de Lisboa, na noite eleitoral, para entregar os resultados de todas as secções.
"Estamos tão ritmados que funcionamos sobre um cronómetro. Todos sabemos as nossas funções e dá-me particular prazer ser o primeiro a chegar a Lisboa, para entregar os boletins com os nossos resultados", refere Edgar Emídio, de 36 anos. "É o resultado do nosso trabalho. Somos despachados. E atenção: somos o concelho mais a Norte do distrito e temos mais de 40 minutos de auto-estrada para fazer", evidencia.
Encerradas as urnas, o técnico administrativo deixa passar cerca de meia-hora até se fazer à estrada. "Já percebi que é mais ou menos o tempo que demora a contagem da primeira mesa de voto a que vou", explica.
Depois, sozinho ou acompanhado por um colega, ao volante de uma Citroen Berlingo desloca-se Vermelha, à qual se seguem outras cinco freguesias rurais a calcorrear: Painho, Figueiros, Alguber, Peral e Cercal. Com curvas e contra curvas, onde a qualidade do piso não corresponde à iluminação. Receio? "Talvez no princípio, como era a primeira vez, tivesse ficado um pouco mais receoso. Mas quem é que me vai mandar parar no meio da estrada para ficar com uns boletins que estão dentro de quatro ou cinco envelopes e ainda são colocados dentro de um embrulho lacrado? Só o trabalho!", graceja.
Chegado à sede do município, pelas 22 horas, e conferidos os resultados, é altura de rumar a Lisboa e percorrer os 95 quilómetros da A8 que separam a vila do Governo Civil. "Comecei por chegar em segundo ou terceiro lugar. E depois fomos os primeiros. Vamos ver se no domingo [hoje] é igual", lembra, confiante, aquele autêntico 'motorista da democracia', casado e pai de gémeos.
De regresso ao Cadaval ainda é tempo de conferir na televisão os resultados finais a nível nacional. "Não dá para me abstrair das eleições mesmo depois do trabalho feito. É uma espécie de 'vírus' da democracia que depois de ganho tende a não desaparecer", admite.