O advento dos tablets e dos smartphones criou uma explosão de novos empregos e de empresas no ramo das tecnologias de informação. A Multiverso é uma filha desta "iEra". Já foi capaz de criar uma app premiada três vezes, e descarregada por mais de cinquenta mil utilizadores. Bastou isso para merecer o hashtag "#fazemosbem".
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Tiago Fernandes, 26 anos. Ele é o cérebro programador por trás da Multiverso, uma empresa focada na criação de aplicações móveis para um mercado digital e sem fronteiras. Com formação em Engenharia Informática, Tiago aproveitou um espaço cedido na empresa do pai, que passou a servir de base à atividade da Multiverso que, passo a passo, está a construir. Aliás, confessa: "Os sócios sou eu e os meus pais."
Nesta conversa, contamos também com a companhia da Mariana Teixeira, licenciada em Ciências da Comunicação e com um mestrado em Inovação e Empreendedorismo. É dela que depende a gestão de projetos e a divulgação dos mesmos. A par deles, a equipa conta ainda com um designer e um assessor de comunicação. É claramente uma microempresa que está a dar os primeiros passos, mas que quer "fazer bem" à primeira para chegar o mais longe possível.
Taggeo - A bússola para o cidadão do século XXI
Em 2007, a Apple anunciava o primeiro iPhone. Na altura, o Tiago "estava muito concentrado na computação gráfica, e nos jogos", mas admite que "a partir de então notou uma inflexão no currículo." Foi quando lhe ocorreu a ideia do "Taggeo".
Começou por ser uma "rede social de geolocalização" que poderia permitir a publicação de posts georreferenciados, e qualquer utilizador que passasse por aquele lugar poderia aceder a essas mensagens. Mariana explica que esta visão estava muito virada para o mercado publicitário "mas percebemos que faltava ali qualquer coisa..." A ideia amadureceu e a tecnologia também. Estudaram o mercado, fizeram experiências até que, num momento eureka, "decidiram reformular toda a plataforma".
"Deixámos de ser uma rede social para passarmos a agregar redes sociais". Ou seja, em vez do utilizador se perder entre aplicações e redes sociais distintas à procura de pontos de interesse, o Taggeo conseguiria reunir todas as sugestões numa mesma aplicação, com um design atraente e disponível para todas as plataformas iOS, Android, e Windows Phone.
A Mariana exemplifica: "Estou no Porto. Venho de Lisboa. Não conheço bem a cidade e falaram-me de um restaurante bom. Chego a São Bento, ligo a aplicação, e o que é que tenho à minha volta?" De imediato, surge uma lista de sugestões: "Onde comer, onde beber um copo. Onde há uma loja de discos..."
Estas sugestões, "são bebidas em todas as redes sociais - incluindo Facebook, Instagram e Twitter" e estando assim validadas por uma larga comunidade de utilizadores. No fundo a app "foca-se nos interesses do utilizador". "Não sugerimos só restaurantes, cerveja, ou eventos" a aplicação também inclui "fotos tiradas pelos utilizadores".
Desde que foi lançado, em setembro de 2012, e sem qualquer publicidade, o Taggeo já conta com mais de 50 mil downloads e 18 mil utilizadores registados e ativos. Uma boa parte da procura da aplicação veio - imagine só - da Tailândia. Um facto que o CEO da Multiverso, explica "pela disseminação do Windows Phone naquele país". Por cá, "foi das primeiras aplicações a ser desenvolvida de forma nativa para o Windows Phone!"
O modelo de negócio
A aplicação é gratuita mas o negócio não se esgota num download. A Multiverso desenvolveu um sistema "proprietário de publicidade", semelhante ao Adwords do Google, mas que Tiago afirma ser "mais simples", admitindo a inclusão de publicidade direcionada dentro da aplicação". A par disso, o Taggeo vai permitir a "promoção de locais" que mediante o pagamento de um "royalty" passarão "a ser destacados independentemente da distância" a que se encontrem da geolocalização do utilizador.
A terceira via para criar valor passa pelo desenvolvimento de "rotas pagas" que permitam usar a aplicação como "cicerone turístico", guiado a partir de um índice de pontos de interesse geolocalizados como é já o caso da Rota do Românico. O Tiago exemplifica: "Se estou junto de um dos pontos da rota, ele vai avisar-me com um "pop-up" de que estou junto da igreja Y do românico". E a aplicação apresenta de imediato novos passos: "Não quer ver? Já agora venha conhecer a história".
Neste momento, já é possível experimentar algumas rotas gratuitas. A Multiverso tem uma "parceria com a Câmara Municipal do Porto", e "estão a estabelecer outras parcerias" que darão origem a novas rotas.
Kiwiscreen - Ecrãs mágicos para eventos
O segundo grande projeto chama-se Kiwiscreen e nasce de uma tendência dos novos tempos. Em eventos públicos como espetáculos, idas a discotecas ou a concertos, já começa a ser difícil encontrar quem não faça uso do telemóvel para partilhar selfies ou instagrams a dar conta do que fazem e, mais importante ainda, por onde andam.
"As pessoas já fazem isso por iniciativa própria, partilham no Twitter, no Instagram, no Facebook, põem tags, e querem mostrar aos amigos que "eu estou aqui". Num mero acaso, um cliente lançou-lhes o desafio: "Se vocês conseguem agregar as fotografias "geolocalizadas", será que conseguem reunir todas essas fotos e mensagens num ecrã?"
Poucas horas depois, e algumas linhas de código escritas, o Tiago apresentava o protótipo do Kiwiscreen. Basicamente, a partir da geolocalização e das hashtags das fotografias tiradas num evento, esta plataforma agrega todos esses conteúdos publicados introduzindo-os numa arrojada animação gráfica que pode ser projetada ou apresentada num videowall destes eventos.
E assim estava criado um novo produto e um novo modelo de negócio. Para começar, há uma versão gratuita que permite gerar um Kiwiscreen normal. Disponibiliza um único template de animação, "permite a escolha de uma hashtag, mas está limitado ao Instagram e ao Twitter". A par disso, a projeção da versão gratuita apresenta sempre a marca da aplicação.
As versões pagas agregam mais redes sociais como o Facebook, "dispõe de mais templates, e o cliente tem a possibilidade de incluir o próprio "logótipo da empresa e dos patrocinadores". O painel de moderação é um serviço extra, e permite a filtragem humana de conteúdos impróprios.
A parte interessante da solução é dispensar qualquer tipo de hardware ou software dedicados. Basta ter um computador, uma ligação à internet e aceder ao URL fornecido pelo Kiwiscreen. Todo o trabalho de agregação e animação gráfica das imagens é feito remotamente, e enviado por "streaming" para o computador do cliente. "Fomos os primeiros a fazer isto em HTML5." "Se amanhã quiser organizar um evento, eu dou-lhe já um URL!"
Aplicações-chaves na mão
Neste primeiro ano, a Multiverso já conseguiu reunir uma carteira de 35 projetos para ecossistemas web e mobile. Sem revelar nomes, Tiago fala de trabalhos para setores como "a área médica, entidades corporativas grandes como bancos, sistemas de informação para turismo, e câmaras municipais", produzindo sites e aplicações, de acordo com o que o cliente pretende.
Já quando falamos de preços, tudo depende dos requisitos e dos orçamentos: "Já fizemos propostas de 400 euros até 20 mil euros. Varia imenso da quantidade e da complexidade". Mariana acrescenta que "depende se o cliente quer uma aplicação apenas para Android, ou para outros sistemas operativos"
Para já, este é apenas o início de uma pequena empresa que já tem algumas ideias em campo. O Tiago sabe onde quer chegar dentro de dez anos: quer "ser uma empresa com bastante projeção a nível de projetos como o Taggeo e o Kiwiscreen. Com milhares de utilizadores a usarem-nos no turismo, e a criar valor". Com a rota bem definida e com a ajuda das coordenadas do Taggeo, não admira que mais cedo ou mais tarde esta equipa chegue mesmo a esse destino.