A presença inesperada de "Neto" e "Falâncio", a dupla humorística do programa "Vai tudo abaixo", "estragou" a acção de campanha de ontem, quarta-feira, à tarde do PS, no Seixal.
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Estava prevista uma arruada. No entanto, a confusão gerada pela presença dos artistas - que, de megafone em punho, gritavam "a luta continua!" e "agradeciam" a José Sócrates o aumento do desemprego e o encerramento de fábricas no país, terreno fértil para a "luta", diziam - fez com que a iniciativa tivesse de ser encurtada.
Assim que o carro do primeiro-ministro e candidato do PS estacionou na marginal do Seixal, a dupla desatou aos gritos, através do megafone, dirigindo-se a José Sócrates, que fez de tudo para a ignorar. "Os homens da luta vêm cumprimentar o primeiro-ministro", "Obrigado, José Sócrates", gritavam.
Elementos da caravana socialista ainda os tentaram convencer a não estragar a acção de campanha, mas os actores Nuno e Vasco Duarte não se mostraram dispostos a desarmarar. "Isso é que é democracia, sim senhor!", diziam, continuando a correr aos gritos, entre as pessoas, e tentando abafar a intervenção do líder socialista, que entretanto subira ao camião-palco ali estacionado.
Alguns militantes, exaltados, não gostaram da brincadeira. "Vai mas é trabalhar", "PS, PS!", gritavam-lhes, tentando enxotá-los do recinto e tapá-los com as bandeiras. No meio de tanta confusão, um dos humoristas, "Jel", subiu a uma paragem de autocarro e acabou por partir a estrutura em vidro aramado, o que fez com que a sua garra esmorecesse. Entretanto, já tinha chegado ao local um agente da PSP, que os mandou parar e encaminhou para uma zona afastada, com o objectivo de os identificar, procedimento que, segundo disse ao JN um dos artistas, é muito frequente em todas as suas acções.
Os comediantes já tinham admitido ao JN que seriam "mal recebidos" pelos socialistas, que acusam de os terem pontapeado. Prometem, contudo, brindar todas as outras candidaturas com acções do mesmo gémero. "Isto não vai ficar por aqui. A luta é democrática. Vai a todos".
No fim da sua curta intervenção, que durou menos de três minutos, Sócrates não deixou passar a acção em branco. "Nós fazemos campanha com elevação, com ambição e com tolerância, que não manda ninguém fazer provocações a lado nenhum".
Este não foi o único incidente do dia de ontem, na campanha socialista. De manhã, à chegada ao Barreiro, três carrinhas da caravana (que viajam decoradas de verde e vermelho) foram mandadas parar, durante cerca de 30 minutos, pela GNR.
Os militares alegavam que os carros não podiam circular naquelas condições, uma vez que os livretes não indicavam a alteração de cor. O PS, por seu lado, argumenta que a situação está prevista na lei eleitoral. O assunto foi dado como sanado.