Os Queens of the Stone Age eram o nome mais aguardado da 19.ª edição do Super Bock Super Rock e deram um espetáculo que há-de ficar na memória das 30 mil pessoas que foram ao Meco para os ver.
Corpo do artigo
A ansiedade para os ver subir ao palco pairou durante todo o dia pelo recinto, e quando as luzes se acenderam, à meia noite e meia, para dar início ao concerto, a gritaria anunciava a excitação coletiva de quem esperou muitos anos para os ver ou rever.
"You think i ain't worth a dollar, but i feel like a millionaire", do disco "Songs for the Deaf", iniciou o concerto com estrondo, seguindo-se "No one knows" e uma massa humana aos saltos em apoteose. Estava dado o mote para uma hora e meia de rock sem artifícios e com eficácia máxima, uma raridade nos dias que correm. O primeiro "olá" de Josh Homme, o único que sobrevive da formação original do grupo, tem como resposta uma tremenda ovação e é óbvia a reverência que os que ali estão prestam ao grupo.
"My god is the sun", primeiro single do novo disco, "...Like Clockwork", é tão bem recebida como as anteriores, e ainda o concerto vai no início e a comunhão entre palco e plateia já é total.
A balada "The vampyre of time and memory" senta Josh Homme ao piano, no qual se revela tão talentoso como no dedilhar da guitarra. No recinto, isqueiros ao alto que o momento é solene.
"Este é o último concerto da tournée e vocês são fantásticos. Estamos a divertir-nos imenso.", confessa Homme, que ao longo do espetáculo pede várias vezes para subirem as luzes para poder apreciar a multidão que se agiganta à sua frente.
Para as mulheres na plateia ofereceu "Make it wit chu", e pede-lhes que entoem o refrão, como se tal fosse preciso.
Em "I think i lost my headache" há uma profusão de guitarras que enche todo o recinto e distorções que marcam o ritmo frenético da caminhada até ao final. "Feel good it of the summer" e "Go with the flow" mal deixam os pés tocarem no chão e abrem caminho para a loucura se instalar em "A song for the dead". Pés a apontarem para o céu, mosh em círculos perfeitos e braços no sentido do infinito. A banda agradeceu e saiu de palco, sem encore nem regressos para colher aplausos.
Mesmo que o público esperasse ouvir mais duas ou três canções, todos terão saído do recinto com a certeza que esta é uma das maiores bandas de rock dos nosso tempos.
Bluesman Gary Clark Jr. em estreia no Meco
Antes das estrelas da noite, o norte-americano Gary Clark Jr. brilhou no primeiro concerto que deu em Portugal. Virtuoso da guitarra, que por vezes nos traz à memória Jimi Hendrix, Gary Clark é o bluesman do momento. Tem chamado a atenção das mais altas patentes do rock - tendo já partilhado o palco com os Rolling Stones - e veio de um dos palcos secundários do britânico Glastonbury para o palco nobre da Herdade do Cabeço da Flauta.
Apesar da árdua tarefa de preencher as horas que faltavam para o concerto dos Queens of the Stone Age, Clark estreou-se com distinção. A guitarra é, claramente, a protagonista, mas a sua voz soul embala canções que percorrem o espetro dos blues. Acompanhado por um baixista e um baterista, passa com agilidade do blues rock de "Numb" para um blues de travo country em "Don't owe you a thang", que mete o público a bater o pé e que nos transporta algures para a América rural. Clark desfia canções que desafiam o tempo standart, sem pressas, e que culminam em longos solos que conseguem manter a atenção do público.
Tarda Perdida responsáveis pela primeira enchente no palco EDP
Nome cimeiro do punk rock português, os Tara Perdida foram os primeiros a atuar no último dia do Super Bock Super Rock e foram os responsáveis pela primeira enchente no palco EDP, em três dias de festival. A banda liderada por João Ribas foi recebida em braços por uma multidão de fãs.
Pela primeira vez, viu-se pó no ar, mosh, e muita devoção a uma banda que anda nestas lides há quase 20 anos.
"Fizeram-se amigos" ou "Batata Frita" são canções que atravessam várias gerações. Bernardo Silva, t-shirt da banda ao peito e mão no ar, é o fã mais novo no recinto. Tem dois anos e saltita ao colo da mãe enquanto repete "Batata frita Pala-Pala/ É uma tara de sabor".
Aos portugueses Miss Lava coube-lhes abrir o palco principal, composto, mas sem uma plateia conhecedora do heavy rock que praticam. Às 20 horas, há quem guarde o melhor lugar para assistir ao regresso dos Queens of the Stone Age, mas são muitos os que aproveitam para jantar enquanto decorrem os primeiros concertos da noite.
Os irlandeses Ash subiram ao palco às 21.20 horas e tinham à sua espera um aglomerado que foi crescendo com o cair da noite. A banda, que teve o seu período áureo nos anos 90, parece não fazer parte da memória do público, que quase não reage a "Girl from mars", um dos singles de sucesso do grupo.
"Já se passaram alguns anos. É bom estar de volta a Portugal", diz o vocalista Tim Wheeler. Dos disco dos anos 2000 saíram canções como "Shining light" e "Burn baby burn", que encerrou uma hora de espetáculo. A banda, que voltou aos palcos no final do ano passado, após um interregno de cerca de sete anos, mostrou que está em boa forma, apesar de as canções não provocarem o entusiasmo de outros tempos.
Super Rock terminou com saldo positivo
A 19.ª edição do Super Bock Super Rock chegou ao fim esta madrugada, com saldo positivo. Nos três dias de festival passaram pelo Meco 85 mil pessoas, mais 20 mil do que no ano transato.
A melhoria das condições do recinto - com especial destaque para a limpeza no campismo e a redução da poeira - e a aposta em nomes como os The Killers ou Queens of the Stone Age permitiram ao festival produzido pela Música no Coração reconquistar o público que, no ano passado, o castigou pelas parcas condições oferecidas.