Manuela Ferreira Leite adiou discussão da liderança.Apoiantes e críticos concordam por motivos diferentes.
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Os papéis estão distribuídos: Manuela Ferreira Leite aguenta mais 15 dias com o apoio do núcleo duro, do qual pode emergir uma alternativa de continuidade. Pedro Passos Coelho não pede a demissão, mas irá a votos quando subir o pano.
Costuma ser assim: em noite de derrota aparecem sempre em conjugação personagens que têm contas para ajustar com os líderes derrotados e personagens que aproveitam a derrota para se lançarem ao lugar. Sempre? Não, sempre não, porque o habitual teatro do azedume teve ontem uma certa contenção.
Pedro Passos Coelho acompanhou a saga eleitoral com um pequeno grupo de amigos. Escolheu o seu escritório no centro de Lisboa, depois de ter jantado em casa com a família. "A noite de hoje é para as explicações dos dirigentes do partido", afirmou ao JN. Hoje, irá mais longe porque a mudez costuma ser de mau agoiro. O prometido candidato a líder - quando se abrir o processo de sucessão dirá "presente" - participa no final desta tarde na inauguração de uma sede de candidatura autárquica em Paredes e, nessa altura, irá detalhar a sua opinião.
É preciso dizer que a continuidade de Manuela Ferreira Leite não surpreendeu os opositores. Evitam "pedir a cabeça" da líder, mas sabem que esta paz é fantasista. "Teve uma reacção politicamente autista", afirma um antigo dirigente social-democrata. Ferreira Leite conjugou os verbos "continuar", "manter" e "prosseguir" para deixar claro que está convicta de que pode ser "alternativa " e remeteu para depois das autárquicas uma reunião do conselho nacional para analisar o "prolongado ciclo eleitoral".
A táctica de empurrar a decisão para mais tarde foi acarinhada pelo "inner circle". Estes quinze dias permitem que os "front runners" possam preparar uma eventual alternativa e só Rui Rio apareceu a clarificar a semiótica dos escrutínios (ver texto em baixo). O presidente da Câmara do Porto disse que legislativas e autárquicas são "eleições distintas".
No cair do pano, o caso da "vigilância" do Governo à Presidência ainda mereceu reparos amargos de alguns dirigentes. "É evidente que desviou as atenções", advertiu Aguiar Branco. O fim imposto por Cavaco a este "show case" deixou o PSD sem sustento na narrativa da "asfixia democrática" e sem margem de manobra para usar os "problemas incómodos" para se distinguir do PS. "Como a taxa desemprego e o crescimento económico". Certo é que, mesmo se ganhar as autárquicas, Ferreira Leite deixa o PSD fora do poder e numa situação eleitoral ao nível de Santana Lopes. O fogareiro fica acesso.