Durou menos de 30 minutos, mas correu de feição ao primeiro-ministro e candidato do PS às legislativas de 27 de Setembro a primeira arruada desta campanha eleitoral.
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Ontem à tarde, na estreitíssima e curta Rua Capelo e Ivens, no centro histórico de Santarém, Sócrates distribuiu beijinhos e cumprimentos. Mas foi com algum pudor que reagiu aos piropos que lhe foram lançados pelas mulheres que assomavam às portas das lojas. "São os seus olhos", respondeu a uma que lhe gabou a beleza. "São muito simpáticas", disse a outras que também o quiseram cumprimentar.
Sócrates desceu a rua acompanhado pelos dois primeiros membros da lista do PS pelo distrito, os actuais secretários de Estado Jorge Lacão e Idália Moniz, e por Hermínio Martinho, ex-presidente do PRD. Questionado pelos jornalistas se gostava de ter a seu lado Moita Flores - o presidente da Câmara de Santarém, eleito pelo PSD, que ontem se ausentou do país, precisamente no dia em que Manuela Ferreira Leite também visitou a cidade -, Sócrates respondeu: "O mais importante ele já declarou. É que não vai votar no PSD. Isso é o mais importante", disse, capitalizando declarações do autarca independente que, recentemente, lhe atribuiu a medalha de ouro da cidade.
Mesmo sem o anfitrião a seu lado, Sócrates foi bem recebido em Santarém. À chegada ao Largo do Seminário, onde o aguardavam dezenas de militantes e simpatizantes - alguns deles trazidos em autocarros das juntas de freguesia de Fazendas de Almeirim e Coruche, ambas socialistas -, Sócrates pôs de lado a timidez e dirigiu-se às pessoas que estavam na esplanada. "Sei que isto é um grande aparato. Desculpem ter estragado este vosso fim de tarde", disse a três mulheres que ali estavam.
Mal sabia ele que duas delas eram professoras, também elas zangadas com o modelo de avaliação que lhes foi imposto. Ainda assim, Vera e Cláudia Henriques, duas irmãs de 36 e 40 anos - a primeira professora de Matemática, a segunda professora do Básico -, gabaram-lhe a "simpatia" demonstrada na rua. "Mostrou-se mais humilde do que foi durante o mandato", diziam, admitindo que a guerra aos professores lhe vai sair cara e, "sem dúvida", custar a maioria absoluta.
"A sorte dele é que ninguém gosta da outra senhora", dizia a mãe de ambas, de 61 anos. Ao contrário de Sócrates - que ontem, num almoço com empresários em Torres Novas, voltou a falar na necessidade de "estabilidade política" -, Vera não teme um governo minoritário. "Não quero que ninguém tenha maioria absoluta, ninguém deve ter o poder total. É preciso é que haja uma boa Oposição. Eles têm que aprender a trabalhar em conjunto".
Na despedida, quando subiu ao palco improvisado, José Sócrates agradeceu o apoio popular e disse deixar Santarém com a ideia de "vitória". Palavra que repetiu três vezes.