Os dois maiores partidos reclamam vitória. O PSD ganhou porque teve o maior número de câmaras e de freguesias. O PS ganhou porque teve o maior número de votos e de mandatos. A diferença é que os sociais- -democratas querem um novo líder.
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Tudo é bom quando acaba bem. Não foi esta a frase que José Sócrates usou para sintetizar o resultado eleitoral obtido pelo PS nas autárquicas, mas quase. "Terminou um ciclo eleitoral no qual o PS veio sempre a crescer. Começámos mal nas europeias, subimos nas legislativas e voltámos a subir agora, nas autárquicas. E também subimos em relação ao resultado de 2005. Estamos satisfeitos. O ciclo terminou bem para o PS", afirmou, ontem à noite, o secretário-geral do Partido Socialista.
A verdade é que, para todos os efeitos, ganha quem ganha mais câmaras. E quem teve mais câmaras - 138 - foi o PSD, como Manuela Ferreira Leite salientou, logo no início do discurso. "O país deu a vitória ao PSD. Obtivemos o maior número de câmaras e de freguesias, o que faz com que continuemos a manter a presidência da Assembleia Nacional de Municípios e da Associação Nacional de Freguesias".
Mas nem tudo parece ser bom no PSD ou estar perto de acabar bem. A líder do partido ainda não tinha discursado e já Luís Filipe Menezes - obteve resultado histórico em Gaia (quase 62%) e recusou-se a partilhar os louros com Ferreira Leite - e o deputado Miguel Relvas exigiam uma nova liderança para o partido. "É preciso mudar de rumo. Ficar agarrado a lugares é um mau serviço que se presta ao partido. Nem em Maio, nem em Junho. A líder deve fazer o que fizeram Fernando Nogueira e Santana Lopes", afirmou o presidente de uma das maiores cidades do país, convidando Ferreira Leite a abandonar imediatamente o partido.
Miguel Relvas, público apoiante de Pedro Passos Coelho, seguiu-lhe as pisadas. Mesmo antes de os resultados estarem totalmente fechados, já o deputado afirmava que a actual liderança social-democrata "não pode ser autista" em relação às eleições autárquicas, nas quais o partido "perdeu votos e perdeu câmaras".
Foi justamente essa perda que José Sócrates tentou capitalizar para sustentar o que não se inibiu de catalogar como vitória. "Fomos o partido mais votado, com mais de dois milhões de votos, e obtivemos mais 50 mandatos do que o PSD". Sócrates regozijou- -se ainda pelo que disse ser "uma vitória histórica" de António Costa em Lisboa (desvalorizou a derrota em Sintra e no Porto). "Pela primeira vez, o PS, sozinho, obteve uma vitória expressiva e politicamente importantíssima contra a Oposição".
Ferreira Leite também puxou a si a vitória de "câmaras importantes ou emblemáticas, como Faro, Espinho ou Felgueiras". E, mesmo em Lisboa, esclareceu, "podemos ter o mesmo número de mandatos que o PS e vencer a Assembleia Municipal". Enganou-se.