<p>Reter na memória grande experiências do acto eleitoral não é para Nuno Domingues, que hoje assume as funções de presidente suplente de uma das mesas do Campo Grande, em Lisboa.</p>
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Para se ser mais específico, na Reitoria da Cidade Universitária, uma espécie de local de voto das elites [dizem]. Tanto mais que este professor do Ensino Básico, além de referir o cansaço de um longo dia de entrega à causa pública, opta antes por apontar para o que necessita ser corrigido: que os invisuais tenham acesso livre ao voto, sem a habitual ajuda de terceiro no processo.
"Nas últimas eleições [Europeias] foram entregues às mesas de voto vários editais em Braille, sem que os membros soubessem o que lá estava escrito", lembra o presidente suplente, de 38 anos. "Há que generalizar os boletins em Braille para que os invisuais não tenham de depender de alguém, em quem terão de confiar que colocará o voto exactamente no partido ou movimento que pretendem", insiste.
Após um 'estágio' de oito anos numa das 32 mesas de voto do Lumiar, a terceira freguesia mais populosa de Lisboa e mais socialmente heterogénea, Nuno Domingues mudou-se para a reitoria no Campo Grande nas eleições europeias, como representante partidário [são cinco] como exige a legislação.
"No Lumiar acabei sempre por mostrar disponibilidade em arranjar pessoas do meu partido, porque é complicado mobilizar quem queira vir para as mesas. Lá também já havia uma maior interacção entre as pessoas", explica. Já na reitoria o cenário é diferente. "Há coisas engraçadas. Por exemplo: Mário Soares, por norma, vota pelo meio-dia, acompanhado da mulher. Logo depois aparece como que um séquito atrás dele. Não só curiosos como alguns que gostam de ficar no meio daquele aparato mediático", descreve.
A catarse surge com a contagem dos votos. Aí, há que se estar preparado para encontrar desde boletins rasurados até ao uso do pior calão. "Imagine-se o que é estar naquele ambiente tenso, em que de vez em quando é necessário recontar votos devido a erros de contagem, e de repente surge um boletim com frases ofensivas ou bonecos. Acaba por descomprimir e, até, provocar o riso nos membros", acrescenta.
Encerradas as mesas é o imediato regresso a casa: "Mesmo com cansaço dá sempre a vontade de acompanhar os resultados pela televisão".