Uma vitória "extraordinária" e "sem nenhuma ambiguidade". Foi desta forma que o secretário-geral do PS, José Sócrates, classificou, ontem à noite, os resultados das eleições legislativas que voltaram a dar a vitória ao PS, mas sem a maioria absoluta de há quatro anos e meio.
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O PS ganhou com 36,5 % dos votos (há quatro anos teve 45%) e conquista 96 dos 230 lugares no Parlamento, o que significa que perde 24 deputados e que fica refém de acordos parlamentares (o único partido que, sozinho, lhe garante maioria é o CDS) para conseguir governar.
Ontem, Sócrates não quis falar sobre esse assunto, nem sobre se admite formar um Governo de coligação. "É cedo para falar nisso", respondeu aos jornalistas, quando foi insistentemente questionado sobre o assunto, dizendo que vai esperar pela indigitação do presidente da República e que, depois, falará com todos os partidos com assento parlamentar. "Julgo que é isso que corresponde à vontade expressa do povo português", disse, insistindo na importância do "valor político da estabilidade". "É muito importante que seja esse valor respeitado", disse, num aviso à Oposição com quem disse ter "boa-vontade" para trabalhar.
À chegada à sala do Hotel Altis para o discurso de vitória, onde só entrou pelas 23 horas e ainda antes do líder do CDS-PP, Paulo Portas, falar ao país, Sócrates salientou que os portugueses voltaram a "confiar uma vez mais no PS para que continue a governar Portugal". "Foi uma confiança renovada em circunstâncias muito difíceis e muito exigentes", disse, agradecendo o empenho de todos os socialistas e independentes que se envolveram de forma "vibrante" na campanha. "É uma vitória de todo o PS", disse, citando o apoio dos históricos como Mário Soares e Almeida Santos.
Para Sócrates, os portugueses valorizaram a "atitude positiva de quem não se candidatou contra ninguém, mas para servir Portugal e os portugueses", disse, insistindo que esta "é a vitória de um projecto político da reforma e da modernização". "Esta vitória foi também a vitória da decência e da elevação na política", disse o secretário-geral do PS, numa referência velada aos vários casos que marcaram a campanha eleitoral. E também não deixou passar em branco as críticas de asfixia democrática quando comentou a "elevada participação eleitoral" que, em seu entender, "prova que a nossa democracia respira bem e dá sinais de vitalidade".
Jaime Gama, presidente da Assembleia da República, considerou os resultados "expressivos". E deixou um aviso: "O país tem de ter a noção clara de que estamos numa situação difícil e, por isso, é necessário manter um rumo de coerência com o desenvolvimento do país, com a saída da recessão e também não pretender confiscar no dia seguinte às eleições aquilo que foi a escolha do povo".