O regresso dos The Stone Roses era um dos momentos mais aguardados da primeira noite de Optimus Alive, mas na memória fica uma banda já estafada, cujo regresso aos palcos apenas pode agradar aos fãs mais saudosistas.
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Dezasseis anos depois de terem abandonado os palcos, os Stone Roses reuniram-se para uma tournée mundial, que passou esta sexta-feira por Portugal. A banda de Ian Brown perdeu o fulgor de outros tempos e ofereceu um espetáculo já gasto e com pouco vigor, apesar de os êxitos da banda fazerem óbvio sucesso junto do público.
A venerada "I wanna be adored" marcou o arranque do concerto, elevando as expectativas em relação às duas horas de concerto que se seguiam. Contudo, a moral do público - e da banda - esmoreceu pouco depois de "Mersey Paradise", a segunda canção a soar no Passeio Marítimo de Algés.
Mani, Reni e John Squire continuam a agarrar os instrumentos com a competência que se espera de uma banda histórica, mas Ian Brown não apresenta a mesma garra. Ao longo de todo o concerto pareceu desligado e sem entusiasmo, debitando canção atrás de canção como se isso fosse suficiente para conquistar a plateia.
"Waterfalls" e "This is the one" foram algumas das músicas mais celebradas, com o público a mostrar-se mais entusiasmado no final da atuação. Mas nessa altura, já muitos tinham abandonado a frente do palco principal ou entretiam-se a disparar fotografias para documentar o momento.
A caminho do final, Ian Brown voltou a descer até junto do público, mostrando um bom humor que não tinha sido possível descodificar em palco. Deu abraços, beijos, deteve-se alguns segundos junto de grupos de fãs e até fez pose para as fotografias.
Antes, foi a vez dos também britânicos Snow Patrol subirem ao palco, sob um céu cinzento que fazia adivinhar chuva a qualquer momento. Quando os primeiros acordes de "Hands open" se ouviram, muitos começaram a aproximar-se para assistir ao regresso do grupo, que atuou em Portugal há dois anos, no Rock in Rio.
O travo country de "Take back the city" levantou alguns pés do chão, mas foram as primeiras palavras dirigidas ao público que fizeram sucesso, depois de "Crack the Shutters". "É muito bom estar de volta", disse Gary Lightbody, recordando o espetáculo que tinham dado em 2010.
"This isn't everything you are" foi a primeira a desencadear coros entusiasmados, mas foi "Run" a protagonista do primeiro momento alto do concerto. A canção que fez a banda dar nas vistas em 2003 foi dedicada aos Stone Roses, um dos grupos favoritos de Gary Lightbody: "Mal posso esperar pelo espetáculo", confidenciou. Para grandes êxitos, grandes clássicos, e o público lá meteu telemóveis ao alto para registar a primeira favorita da noite. Lightbody parece ter gostado da forma calorosa como "Run" foi celebrada, esboçando um largo sorriso enquanto cantava.
"Make this go on forever" agradou aos mais românticos e o final de "Shut your eyes" - "Shut your eyes and sing to me" - foi repetido por um público que quer que a banda leve boas memórias desta passagem pelo Optimus Alive.
Dedicada a todos, "Chasing cars" foi sucesso garantido. Quem andava distraído entre as barraquinhas da cerveja e os patrocinadores juntou-se em frente ao palco para o grande êxito de "Eyes Open" (2006), provavelmente uma das canções mais conhecidas do público português.
Banda de culto em Inglaterra, mas que passa mais desapercebida em Portugal, os Snow Patrol não conseguiram conquistar uma grandiosa multidão em frente ao palco. A concorrência do palco Heineken também era feroz, com os LMFAO a atuar pouco depois dos britânicos terem entrado em palco.
Os LMFAO são uma americanice que goza de assinalável aceitação junto da criançada. Esgotaram o Coliseu há uns meses e no Alive eram mais do que as mães: a tenda Heineken transbordava de povo, era impossível lá entrar. Os pais e a pequenada espalhavam-se pelos lados, a pequenada em cima das mesas da zona da alimentação, coisa imensa.
No palco um carnaval gigantesco: o vocalista, cabeleira redonda, coadjuvado por bailarinos, atrás deles um arsenal tremendo de luzes a bombardear os olhos. Saltou poeira.
Com Buraka Som Sistema, que atuaram já noite dentro, foi fenómeno semelhante a nível de enchente - mas noutro escalão etário e noutra dimensão sonora. "Quero ver toda a gente com o dedo no ar, iá?", desafiou a moça no palco. E à frente dela tudo doido, gente sem pachorra para as nostalgias dos Stone Roses.
Durante a tarde ainda houve tempo para duas atuações marcadamente femininas: Dum Dum Girls e Miúda. O pop rock das norte-americanas Dum Dum Girls foi uma boa aposta para o final de tarde no palco Heineken, com muitos olhares fixados no "girl power" das quatro raparigas.
Já os portugueses Miúda - a miúda e quatro rapazes - mostraram que precisam de mais estrada. As canções ficam no ouvido, o público parece conhecer algumas das músicas deste novo projeto português, mas falta-lhes recriar em palco a beleza que as canções têm em disco.
O duo francês Justice foi responsável por encerrar o palco principal no primeiro dia de Optimus Alive, num festim eletrónico onde não faltaram trunfos como "D.A.N.C.E". Em entrevista ao JN, ao início da tarde, Xavier de Rosnay, metade dos Justice, afirmou que o "público é 50% do concerto".
"Em festivais como este não sei quantas pessoas vão estar a ver-nos, mas sei que nem toda a gente veio para nos ver; alguns podem ter vindo, mas a maior parte vai estar ali porque espera o grupo que toca depois ou porque se desinteressou de um concerto de outro palco. Pode ser difícil conquistá-los, mas quando isso acontece é mágico". E fez-se magia.
Na primeira noite do festival estiveram cerca de 45 mil pessoas no Passeio Marítimo de Algés.