Sabia-se há muito que os espetáculos de David Guetta fazem da intensidade a sua maior virtude. Ainda assim, muitos terão sido surpreendidos pelo impressionante artefacto sonoro e visual da performance do popular DJ francês, que encerrou em euforia a segunda noite do Festival Marés Vivas, em Gaia.
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Autêntica rave urbana à beira-rio, a performance do mais popular DJ da atualidade foi um pontos altos do festival até ao momento, ao desencadear níveis de entusiasmo ainda não vistos na presente edição. A tal ponto que era difícil encontrar grandes aglomerações fora das imediações do palco, já que a esmagadora maioria não enjeitou a chance de testemunhar de perto o set.
Numa atuação tão intensa quanto vibrante, Guetta fez ecoar desde os primeiros instantes a house e eletropop que lhe conferiu fama global, permitindo-lhe gozar de um estatuto equiparável ao das grandes estrelas rock.
Em Gaia, o autor de "Nothing but th beat" não deu tréguas na missão de colocar toda a plateia a dançar, mesmo que junto de alguns o cansaço da noite já se começasse a instalar.
Romantismo pop de Morrison
Seguramente o nome mais esperado do festival por parte de um vasto contingente feminino - em clara maioria nesta segunda noite do Festival Marés Vivas -, James Morrison trouxe o que todos esperavam: canções repletas de sentimento, embora não exactamente lamechas, que apontam com acerto para o coração de quem as ouve.
A voz rouca do jovem britânico, atirado para a ribalta aos 22 anos, logo após o disco de estreia, "Undiscovered", não defraudou a plateia. Os constantes sinais de apreço vindos do público foram reconhecidos pelo próprio músico. "Vocês são fantásticos. A melhor assistência que tive de há muito tempo a esta parte", elogiou, provocando novo surto de entusiasmo entre os presentes.
Num alinhamento que sintetizou de forma exemplar a já não tão curta como isso carreira de Morrison, incluindo êxitos como "You give me something" e "Precious Love" ou standards da estirpe de "People get ready", nada foi deixado ao acaso para provocar êxtase popular. O encore coroou a cumplicidade entre público e artista.
Pop embebida em sintetizadores
Andrógina da cabeça aos pés, Elly Jackson, vocalista e figura de proa dos britânicos La Roux, não tardou a mostrar ao que vinha, enchendo o recinto com uma pop dançável embebida em sintetizadores.
É em torno da figura de Elly Jackson, cuja voz se situa algures entre o tom de Kylie Minogue e o de Jimmy Sommerville, que o som dos La Roux - quase sempre uma massa indistinta de eletropop - se constrói. O que torna ainda mais espantoso o Grammy recebido há quatro anos, aquando da edição do primeiro disco.
Uma limitação à qual a plateia pouco ligou, mais interessada na fruição pura do que em apontar fragilidades, por muito evidentes que fossem.
Orelha Negra abre hostilidades
O ecletismo é mesmo a imagem de marca dos Orelha Negra, quinteto de luxo que abriu as hostilidades do palco principal.
Samplers em abundância, um groove seguro e uma batida que apela à agitação das massas fazem do coletivo lisboeta uma aposta sempre bem sucedida quando se trata de criar ambiente para uma noite que se antevê longa.
Tais predicados colheram recepção positiva junto da plateia, cativada desde o início pela mescla de soul, jazz, hip-hop e funk debitada com eficácia pelo grupo.