Ao contrário do que possa pensar-se, os operadores turísticos da África do Sul estão apreensivos com o reflexo do Mundial de Futebol no sector. A FIFA reservou todas as camas nos hotéis. E os preços dipararam.
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O Mundial de Futebol pode incrementar o turismo na África do Sul, mas a actual "confusão" leva os operadores a temerem uma catástrofe. "Nesta altura, o balanço é negativo", diz o dono de uma agência de viagens.
Silvério Soares da Silva dirige em Joanesburgo, cidade que vai receber 15 dos 64 jogos do Mundial, uma das maiores agências de viagens do país, por três anos consecutivos considerada mesmo a melhor, mas é muito cauteloso em relação a possíveis vantagens turísticas do campeonato. Os outros operadores, garante, pensam igual.
"Os operadores turísticos na África do Sul desejam que seja um sucesso, porque se não for pode ser um insucesso para o futuro do turismo" no país, diz, em entrevista à Lusa, adiantando que, para já, o balanço "é negativo", pelas dificuldades que surgiram nas reservas de hotéis. "Se as coisas continuarem como estão, o país vai ficar prejudicado", garante Soares da Silva.
A FIFA entregou a gestão de bilheteira e hotéis a uma empresa de serviços, a MATCH Services, com sede na Suíça, que por sua vez criou uma subsidiária sul-africana, a MATCH Event Services, que "tomou conta" de 50 hotéis na África do Sul.
O que a empresa fez foi reservar todos as camas de hotéis. E o que aconteceu foi que quem começou a procurar quartos para em Junho assistir ao Mundial só encontrou portas fechadas. E os que não estavam sob a alçada da MATCH aproveitaram e começaram a pedir preços muito, mas muito acima do anterior praticado.
Segundo Soares da Silva, acabam por ser as agências de viagens que ficam mal vistas, porque os clientes no estrangeiro pensam que são elas que não têm "capacidade de resposta". Isto passou-se em Portugal, mas, diz o responsável, no resto do Mundo. "Tenho falado com outros colegas, há pessoas que procuram 15 quartos junto de dois ou três agentes. No fim, são 45 quartos, é uma confusão", queixa-se Soares da Silva.
O resultado do "trabalho" da MATCH é visível em Joanesburgo e arredores. Em quase uma dezena de estabelecimentos hoteleiros contactados recentemente pela Lusa, a resposta foi sempre igual: está tudo cheio, a FIFA tomou conta de tudo.
Temem os operadores, e temem os hotéis, que por alturas do Mundial sobrem quartos, quando agora os poucos que existem estão com preços inflacionados, por vezes a 100 por cento.
Mas Soares da Silva até está optimista e diz que é normal que existam aumentos nos quartos de hotel. "Estive a verificar, o aumento não é muito significativo. Alguns puseram 100 por cento, outros na ordem dos 40 a 50 por cento. Estavam a levar 800 a 900 rands por quarto e passaram para 1600 rands (160 euros)".
Se na restauração o aumento de 15, até 30 por cento, não é muito sentido no bolso dos europeus (uma refeição custa em média 10 a 15 euros), o mesmo não se vai passar, no entanto, nos transportes aéreos, que já anunciaram preços para Junho: de Joanesburgo para a Cidade do Cabo paga-se 2500 rands (250 euros) e nessa altura o bilhete pode chegar aos 8000 (800 euros), e de Joanesburgo para Durban sobe de 1500 para mais de 3000 rands.
Apesar de o rand ser uma moeda fraca em relação ao euro, que para cúmulo desvalorizou na sequência do "caso Grécia", são na maior parte dos casos preços impeditivos de viajar dentro de um país pleno de belezas naturais, praias e cidades, parques e reservas, onde o Kruger Park é só um dos ícones.
Perto de Port Elisabeth, onde Portugal vai jogar dia 15 de Junho com a Costa do Marfim, fica o Addo Elephant National Park e a reserva natural de Baviaanskloof. A Cidade do Cabo, onde Portugal joga a 21 de Junho com a Coreia do Norte, vale por si mesmo, bem como as praias (de água muito fria). Durban (25 de Junho, com o Brasil) oferece a cidade, as praias e os Wetlands Park e Ukhahlamba Drakensberg Park, não muito longe e ambos património da Humanidade.
Se, como refere Soares da Silva, quem vai ao Mundial são essencialmente homens, diz também o responsável que, caso sejam "bem tratados e se virem que a vida não é cara", voltarão "nos próximos cinco anos com as famílias". Porém, "se as coisas continuarem como estão, o país vai ficar prejudicado", assinala.