<p>Aos seis anos já levava as vacas a pastar. Aos 11, começou a trabalhar a sério na lavoura. Aos 56, mais de quatro décadas a tirar o sustento da terra, Agostinho Santos não tem dúvidas: "Este [Jaime Silva] é o pior ministro que tivemos na Agricultura desde o 25 de Abril". Música para os ouvidos de Paulo Portas, que começou o dia nas vindimas, na Quinta de Sanguinhal (Bombarral), e depois passou pelo Rosário, no mesmo concelho, para visitar a produção de Agostinho Santos. </p>
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Muita pêra (40 toneladas no ano passado) e pouca uva. A tendência é para acabar. "Não seria bom pai se aconselhasse as minhas filhas a continuarem. Colher um quilo de uva para receber 10 ou 15 cêntimos é irreal", desabafou, num dos terrenos que o obrigam a trabalhar manhã cedo, logo a partir das seis horas. "Em muitos dias só me deito lá para a meia-noite. Sobretudo em altura de colheita. Trabalhamos muitas vezes com temperaturas negativas ou sob um sol escaldante", observou o agricultor.
Paulo Portas teve uma "amostra" bem mais suave: na Quinta do Sanguinhal cortou uns cachos de uva, mas também teve direito, depois, a um copo de vinho.
Quando miúdo, Agostinho nem sapatos tinha. E se havia para comprá-los, tinham de ser protegidos ao máximo. Muitas vezes, os sapatos iam mesmo nas mãos para não serem gastos. Coisa bem diferente é o Governo não ter gasto 840 milhões de euros de fundos europeus disponibilidades para a agricultura, conforme denunciou Paulo Portas. "Em dois e meio, deixou perdidos 90% dos fundos", reforçou o candidato. "A nós não nos chega nada. Dizem que há milhões, mas onde é que estão?", questiona Agostinho Santos.
Para comprar um tractor recorreu à Caixa de Crédito Agrícola, mas teve de suportar juros de quase 8% para pagar um empréstimo de 27 500 euros.
"Criou-se a ideia que a agricultura vive à base de subsídios e isso não verdade", continuou, acentuando que o sector vive "a pior crise desde o 25 de Abril". "As pessoas do campo têm direito a ser tratadas com dignidade e não com hostilidade. Se ao ministro não lhe pagassem a tempo e horas, se calhar também participava em manifestações", acrescentou Paulo Portas. Enquanto Agostinho fala, os familiares vão tratando da vindima.
A campanha agrícola não pode esperar pela campanha eleitoral. E a "invasão" da comitiva do CDS e dos jornalistas não impede que o trabalho prossiga. "O próximo ministro da agricultura tem que ser uma pessoa que perceba do assunto. Não pode ser alguém que saiu de uma faculdade sem nunca ter andado numa produção", insistiu Agostinho Santos. Que ainda não decidiu em quem vai votar. Até domingo há-de decidir. Sem parar de trabalhar no campo.