<p>O candidato que a 11 de Outubro conquistar a Câmara de Valongo terá de enfrentar um sério desafio. Ainda em clima de crise económica, como pode uma autarquia endividada ultrapassar o estatuto de dormitório?</p>
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Depois da explosão urbanística e demográfica dos anos 90, que trouxe muita construção e novos habitantes, o que resta em Valongo? Segundo os candidatos, restam cinco mil casas novas, mas desabitadas; falta de transportes públicos; sete mil desempregados numa população de menos de cem mil pessoas; um poder de compra abaixo da média da região Norte; a 93.ª posição em termos de qualidade de vida; uma autarquia endividada e a condição de dormitório do Grande Porto, com a consequente perda de identidade concelhia.
"O endividamento da Câmara não se reflectiu num aumento da qualidade de vida", refere a independente Maria José Azevedo, exemplificando com a descida do 54.º para o 93.º lugar no ranking dos concelhos efectuado pela Universidade da Beira Interior.
O Bloco de Esquerda é especialmente crítico do "caos urbanístico no concelho". "A falta de planeamento urbanístico, a cedência aos lóbis imobiliários e a ganância de receita fiscal ditaram o cenário negro em que, hoje, vivemos. A noção de Valongo como dormitório da cidade do Porto tornou-se uma realidade", lê-se no programa de Eliseu Pinto Lopes que refere, ainda, que "as pessoas não vivem o concelho, pois com ele não se sentem identificadas. Falta, por isso, um sentimento de pertença, uma identidade concelhia, uma identidade valonguense."
De acordo com a CDU, existem actualmente cinco mil casas a mais, novas e desabitadas no concelho, daí que para os comunistas não faça sentido falar-se em mais construção. Pelo contrário, propõem uma moratória na construção nas freguesias de Ermesinde e Valongo até que a revisão do PDM seja aprovada.
Afonso Lobão, candidato socialista, queixa-se da "desregulação da Câmara, que permitiu a instalação de grandes superfícies que destruíram o comércio tradicional e tiraram a vida e as pessoas ao centro". O socialista reconhece que a Câmara não cria emprego, "mas deve e pode ser o motor de desenvolvimento para que as empresas se instalem".
Apesar de o concelho ser bem servido por acessibilidades, Maria José Azevedo acusa o executivo de não saber tirar partido da sua localização geográfica central. Na sua óptica, o estatuto de "dormitório" provoca muitos congestionamentos de tráfego, nas horas de ponta, à saída e entrada do concelho.
Para a CDU, uma das causas deste congestionamento é a falta de transportes públicos. Daí a proposta do seu candidato, José Deolindo Caetano, em criar uma empresa de transportes municipais que sirva todo o concelho.
O presidente da Câmara, Fernando Melo, alega que o grande problema de Valongo é generalizado a todo o país: "Falta de dinheiro". No entanto, acredita que o actual executivo está a corresponder às ambições da população. "Alterámos completamente este concelho, que era terceiro-mundista há 16 anos atrás, quando chegámos ao poder", afirma o autarca.
Todos os candidatos chamam a atenção para o valioso património natural do concelho, já que Valongo tem 55% da área florestal da Zona Metropolitana do Porto. Quase todos sustentam que esta é uma das maiores potencialidades do concelho e aquela em que valerá a pena apostar e valorizar, para superar o estatuto de "dormitório".
Candidatura independente veio complicar as contas eleitorais
Em 2005, Maria José Azevedo ficou a apenas 1500 votos de conquistar, pelo PS, a Câmara Municipal de Valongo. Depois de quatro anos em que desempenhou as funções de vereadora na oposição, a concelhia socialista local optou por apoiar Afonso Lobão, ex-vereador da autarquia, em detrimento de Maria José Azevedo. A vereadora não se ficou e, contra as indicações do partido, decidiu ir a votos na mesma, constituindo o movimento "Coragem de Mudar". Acto que motivou a retirada da confiança do PS. Presidente há 16 anos, Fernando Melo, face à nova lei eleitoral, recandidata-se a um último mandato, novamente apoiado pela coligação PSD/CDS "A vitória de Todos". Melo vai a votos depois de um mandato conturbado e numa posição algo fragilizada, uma vez que vários vereadores, e o próprio vice-presidente, se afastaram, em ruptura com a sua actuação, principalmente devido à situação financeira da Câmara. Aliás, o actual executivo camarário decidiu reavocar 25 das 49 competências que o presidente detinha. A CDU candidata José Caetano, ex-presidente da Assembleia de Freguesia de Ermesinde e actual líder da bancada da CDU na Assembleia Municipal. Pelo Bloco de Esquerda, vai a votos Eliseu Pinto Lopes, jovem advogado e fundador do Movimento pelo Tribunal de Valongo. Há ainda a incógnita da lista "Tino, Temos Terra, Temos Semente", liderada por Vitorino Silva. Mais conhecido por "Tino de Rans", presidiu à junta desta freguesia de Penafiel, eleito pelo PS. Celebrizou-se pelo mediático abraço a António Guterres, num congresso do partido.