É debate mundial, tão ou mais ruidoso do que a própria vuvuzela. A FIFA chegou a rebelar-se contra, mas lá autorizou a trompeta, ao arrepio dos estudos que atestam os riscos de surdez na exposição prolongada à estrepitosa gaita sul-africana.
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Se com o estridente som de sete trombetas Josué derrubou as muralhas de Jericó, imagine--se um estádio com 90 mil vuvuzelas sopradas a plenos pulmões... A Phonak não mediu os estragos no episósio contado pelo Antigo Testamento, mas a gigante suíça da tecnologia da audição avaliou um fenómeno actual, visto como uma praga de proporções bíblicas. E concluiu que os tímpanos correm risco de lesões irreversíveis em caso de exposição prolongada aos instrumentos tribais zulus, originalmente feitos com cornos de antílope e que, agora, na era do plástico, se tornaram num fenómeno mundial. Por cá, as gaitas estão esgotadas...
A patrocinadora da selecção vendeu milhares delas, mas os portugueses não correm perigos. De um sopro em Chelas, de outro em Ermesinde não virá mal ao mundo.
O problema é quando se juntam milhares num estádio... A Phonak conclui que o ruído de trinta mil gaitas (127 decibéis) é maior do que o produzido por um avião em descolagem (123,5)... E observa: 15 minutos sob o ruído de 30 mil vuvuzelas pode causar danos irreparáveis no aparelho auditivo.
A organização do Mundial é surda. Na recente inauguração do Estádio Soccer City, no jogo particular África do Sul-Colômbia, também fez medições e verificou que o barulho de 90 mil gaitas é suportável. Só pede que não as soprem na hora da execução dos hinos nacionais.
A FIFA também é mouca. Quando a vuvuzela se apresentou ao Mundo, na Taça das Confederações de 2009, ainda protestou, mas logo cedeu aos encantos folclóricos. "É uma expressão cultural africana", afirma Joseph Blatter, presidente do governo do futebol mundial. Será mais "business"...
A propósito de negócio: o adepto do Kaiser Chiefs que reclama a paternidade da vuvuzela pede "royalties" ao esperto empresário que resgistou a marca. Este sopra para o ar... E já registou a patente do que julga ser a solução para o problema: tampões auriculares, na forma de... vuvuzela!