Entrevista ao general José Loureiro dos Santos
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Perante o relativo êxito de alguns atentados recentes, crê que os "lobos solitários" são uma estratégia para durar? Pelo menos, na Europa e nos Estados Unidos...
Não é uma estratégia nova. Agora, têm sucedido alguns casos, mas, apesar de tudo, não são os procedimentos originais, em que agem sozinhos, sem terem ligações. Qualquer coisa pode ser motivo. Os "lobos solitários" são indivíduos doentes. Atualmente, são "lobos" bem acompanhados, são agentes. Por trás está uma organização - sofisticada, até - que estuda, que vai aos lugares.
Há alguma forma de pará-los?
Não é fácil. Julgo que a estratégia seguida na maior parte dos países é potenciar os serviços de informação. Os estados têm de ser suficientemente hábeis para estarem nesses meios, de modo a conseguirem abortar esses atos. E, também, reunir provas para levar esses operacionais a tribunal.
Os Estados estão preparados para fazer face a este tipo de operacionais?
Uma situação destas é muito difícil de travar. Há serviços de informação que têm capacidade de infiltrar-se e de abortar estas iniciativas. Tanto que, quando acontece um atentado, ao fim de pouco tempo, já se sabe tudo sobre os operacionais, porque já constavam dos arquivos dos serviços. Por isso é que se tem conseguido impedir muitos atentados.
É possível definir um "lobo solitário" padrão?
Dificilmente. Chamamos-lhe "lobo solitário", mas, apesar de agir sozinho, tem uma máquina por trás. Ou pode ter.
De qualquer forma, terá de haver uma predisposição de algum tipo...
A adoção de determinada ideologia nestes termos resulta um pouco de uma mente distorcida, que leva à adesão a um certo tipo de pensamento. No fundo, este processo está ligado à radicalização.
Perante os acontecimentos em França, na Alemanha e nos Estados Unidos pode chegar-se ao absurdo de se passar a olhar o outro como um potencial "lobo solitário"?
Se se mantiver este tipo de ações, essas leituras da realidade vão acentuar-se. A pessoa comum passa a olhar para o outro sempre com cuidado. E pode pensar que esse outro poderá fazer o que os terroristas fazem.
Pode cair-se na paranoia...
Ainda assim, há uma parte positiva nisto tudo. O comum dos cidadãos aceita e compreende melhor o trabalho dos serviços de informação.