O dia 16 de março de 2003 ficará gravado como o da "cimeira da guerra". Como primeiro-ministro, Durão Barroso, foi o anfitrião, na base militar das Lajes, ilha Terceira, da reunião na qual o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, e o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, apoiados pelo chefe do Governo espanhol, José Maria Aznar, e por Barroso, quiseram impor ao Mundo, à revelia do Conselho de Segurança das Nações Unidas e contra a opinião de potências como a França, a narrativa segundo a qual o Iraque possuía armas de destruição maciça e teria de ser atacado e invadido sem mais delongas.
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A manchete do JN do dia 17 deixa: "Ultimato: Cimeira dos Açores dá um dia à ONU para acompanhar EUA". No texto principal das três páginas dedicadas ao tema, clarifica, em antetítulo, que a cimeira "deu pouco mais de 24 horas ao Conselho de Segurança para ratificar ataque ao Iraque" e enfatiza em título: "Hoje é o dia da verdade para as Nações Unidas".
"Há "uma última oportunidade" e nada mais", lê-se logo no início do trabalho, atribuindo o "aviso" aos "quatro aliados atlânticos", que "foram claros a explicar o que esperam" dos outros países do Conselho de Segurança: "apoio inequívoco a uma intervenção militar". "Iremos, naturalmente, até ao fim na nossa recusa à guerra", contrariou o presidente francês, Jacques Chirac, nas reações destacadas pelo jornal, que também dá voz ao Partido Socialista português: "foi a cimeira da guerra e do ultimato que a ONU recusou fazer".
Os Estados Unidos baseavam a sua determinação em atacar o Iraque em "provas" - falsas - de que o antigo aliado possuía armas de destruição maciça, apesar de, em 28 de fevereiro e em 8 de março, respetivamente, o chefe da missão da ONU e o diretor da Agência Internacional da Energia Atómica, terem declarado nada haver que o comprovasse. No dia 17, Bush insistiu que a informação recolhida "não deixa qualquer dúvida de que o regime do Iraque continua a possuir e a esconder algumas das armas mais letais jamais inventadas". Nunca foram encontradas.
O JN destaca a previsão do vice-presidente dos EUA, Dick Cheney, quanto à duração da guerra: "Penso que deverá ser relativamente rápida, uma questão de semanas e não de meses". Na realidade, desencadeada com a invasão por tropas norte-americanas e britânicas a 19 para 20 de março, durou mais de oito anos. As últimas forças dos EUA deixaram o Iraque em dezembro de 2011. Regressaram em 2014. Ainda lá estão pelo menos 2 500 militares.