Nova sondagem dá preferência a Lula da Silva e mostra que intenção de voto em Jair Bolsonaro está estagnada. Aprovação de pacote legislativo que permitiu criar novos apoios sociais ainda não está a dar frutos.
Corpo do artigo
Realizada pela Datafolha e publicada pelo jornal "Folha de S.Paulo" esta quinta-feira, a mais recente sondagem relativa às presidenciais brasileiras continua a colocar Lula da Silva como o candidato mais bem posicionado na corrida eleitoral.
A sondagem projeta, na primeira volta das eleições, 47% de intenções de voto no candidato apoiado pelo Partido dos Trabalhadores. Por sua vez, o atual presidente, Jair Bolsonaro, que tem o apoio do Partido Liberal, conta apenas com 28%.
15025571
Apesar de Bolsonaro ter impulsionado, este mês, um pacote legislativo que permite ao Governo federal aumentar o valor de prestações sociais e criar novos subsídios, as sondagens não refletem um benefício direto entre as ajudas amplificadas pelo presidente brasileiro e as intenções de voto dos eleitores - pelo menos para já.
"Os eleitores de Lula e de Bolsonaro estão bastante convictos do voto deles", constata Adriano Laureno, diretor de análise da consultora Prospectiva. Ainda assim, o especialista acredita que quando a população mais pobre começar a ter em mãos o dinheiro proveniente do aumento dos apoios sociais, é possível que se crie "um efeito de bem-estar geral que terá reflexos no consumo e na taxa de emprego", o que poderá incentivar "uma redução da vantagem de Lula da Silva".
Adriano Laureano, no entanto, considera que o tempo que estas medidas demoram a alcançar a população mais carenciada - uma vez que os apoios só começam a chegar aos bolsos dos brasileiros em agosto - não deverá ser o suficiente para criar "o impacto necessário que Bolsonaro precisa" para vencer as eleições, tendo em conta que a primeira volta do escrutínio acontece a 2 de outubro.
No início de julho, o presidente justificou o novo pacote de ajuda social com a necessidade de dar assistência à população devido ao aumento dos preços dos combustíveis e ao agravamento das condições de vida. Porém, as medidas foram criticadas pela oposição, que acusa Jair Bolsonaro de estar a aproveitar-se para tentar garantir uma reeleição. "Ele acha que pode comprar o povo", afirmou Lula da Silva, dias mais tarde, durante uma entrevista.
A criação do novo pacote de assistência à população mais pobre só foi possível porque o Congresso brasileiro aprovou uma emenda constitucional que permite ao presidente fazer a distribuição de privilégios durante o período de campanha eleitoral, deixando cair uma lei que o proibia de avançar com este tipo de medidas meio ano antes das eleições.
Assim, passou a ser permitido declarar "estado de emergência" no Brasil, autorizando a despesa de mais de 41,25 mil milhões de reais (7,6 mil milhões de euros) até ao fim de 2021 em subsídios sociais, direcionados, em grande parte, para camionistas e taxistas, tendo em conta que são duas das classes profissionais mais abrangidas pelo aumento dos combustíveis e que, geralmente, têm grande peso para Bolsonaro.
Estratégia para a derrota
A 24 de julho, Bolsonaro oficializou, durante a Convenção do Partido Liberal, no Rio de Janeiro, a candidatura à presidência. Durante o seu discurso, o líder brasileiro voltou a questionar a confiabilidade da votação virtual, o que na perspetiva de vários analistas em política, poderá estar já a ser usado como uma estratégia do presidente para não reconhecer uma eventual derrota e dificultar o processo eleitoral.
As últimas sondagens têm mostrado que não será fácil o presidente em funções manter-se no cargo. A má gestão da pandemia e o contexto económico em que o país está mergulhado poderão ser os principais inimigos de Bolsonaro.
Conforme prevê a Constituição do país, no caso de nenhum dos candidatos obter mais de metade dos votos na primeira volta, será necessário que os dois mais votados disputem uma vitória numa segunda ronda - a realizar-se no dia 30 de outubro.
A corrida para o Palácio da Alvorada conta ainda com outros candidatos. Em terceiro lugar na mais recente sondagem da Datafolha surge o antigo ministro brasileiro Ciro Gomes, com 8% de intenções de voto.