Coligação avança em força, mas com muitos riscos, contra bastião jiadista no Iraque.
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Uma operação militar de larga escala foi lançada, no início da madrugada desta segunda-feira, sobre Mossul, a proclamada capital do califado do auto-designado Estado Islâmico (EI) no Iraque, iniciando o que poderá ser uma batalha longa e dramática para a população da segunda maior cidade do país - cerca de 1,5 milhões de habitantes. Se Mossul cair, o último grande bastião do EI na região será Raqqa, na Síria.
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Os principais receios das Nações Unidas e de organizações não governamentais dirigem-se para o risco de os civis serem apanhados no fogo cruzado, a elevada possibilidade de serem transformados em escudos humanos, a fuga desordenada de centenas de milhar de pessoas gerando problemas de assistência humanitária e os focos de tensão entre as forças libertadoras.
Envolvendo entre 30 mil e 49.500 combatentes, a operação, desencadeada às 4 horas (meia-noite em Portugal continental), fez avançar da base de Qayyarah para Mossul, 60 quilómetros a norte, até 25 mil soldados e milicianos iraquianos xiitas, dez mil voluntários de tribos sunitas, cinco mil soldados norte-americanos e 3500 outros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO). Nos flancos norte e leste, avançavam, com a condição de não entrarem na cidade, quatro mil a seis mil milicianos (peshmergas) do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), arqui-inimigo da Turquia, que ficou excluída, sob protesto, da ofensiva.
"O tempo da vitória chegou e as operações para libertar Mossul começaram", anunciou o primeiro-ministro iraquiano, Haider al-Abadi, declarando "o início das operações vitoriosas". Apadrinhando-a, o secretário norte-americano da Defesa, Ash Carter, disse ser "o momento decisivo na campanha para aplicar a última derrota" ao EI, que perde rapidamente território.
Jiadistas em perdas acumuladas
Em outubro de 2014, o EI controlava na região mais de 60 mil quilómetros quadrados; no início deste mês, tinha recuado mais de 46%, para 32 mil, com perdas muito significativas nos últimos meses. Mas a batalha para reconquistar Mossul pode durar semanas, "possivelmente mais", reconheceu o tenente-general Stephan Townsend, comandante a coligação liderada pelos Estados Unidos.
Além da resistência à progressão daquelas forças em várias localidades, lançando morteiros, utilizando ataques suicidas e ateando fogo a crude, os jiadistas reforçaram a defesa de Mossul concentrando quatro mil a oito mil combatentes, chamando uns 3500 que estavam em cidades como Diyla, Tikrit e Anbar. Pelo menos o flanco oeste estará armadilhado com bombas e explosivos.
Neste quadro, o secretário-geral adjunto das Nações Unidas para os Assuntos Humanitários, Stephan O"Brien, avisa que "as famílias estão expostas a um risco extremo de serem apanhadas entre dois fogos ou de serem alvos de atiradores", ilustrando a sua "enorme preocupação" com as operações.
Outro problema é a previsível fuga de civis. O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados prevê que 100 mil pessoas o façam, estando a preparar onze campos de acolhimento, mas a Ação Contra a Fome estima em 300 mil a um milhão de deslocados - uma "crise humanitária de muito grande amplitude".
Outro ainda é o risco, mal Mossul seja conquistada, do surgimento de focos de tensão, não só entre a população sunita e soldados xiitas, mas também entre as forças libertadoras. Por exemplo, os soldados iraquianos deverão garantir a soberania na zona, mas podem não ser bem vistos pelos peshmergas curdos próximo do seu território, cuja administração mantêm alguma tensão com Bagdade. Outro exemplo é a miríade de grupos paramilitares dominados essencialmente por milícias xiitas, algumas das quais patrocinadas pelo Irão...