No dia da celebração do bicentenário da independência, o presidente citou o Golpe Militar de 1964 e aproveitou para fazer campanha eleitoral.
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O bicentenário da independência do Brasil foi, esta quarta-feira, festejado com pompa e circunstância em Brasília e no Rio de Janeiro. Porém, ficou marcado pelo clima de instabilidade que se vive a um mês das eleições. Junto à Esplanada dos Ministérios, e acompanhado pela mulher, Jair Bolsonaro integrou o desfile militar - o segundo ao longo do mandato, já que em 2020 e 2021 as cerimónias foram mais singelas devido à pandemia -, mas antes fez um discurso, no qual referenciou datas que assinalam marcos de tensão política na História do Brasil, sem deixar de lado o ambiente de campanha eleitoral.
"Seguramente passamos por momentos difíceis, a História nos mostra. 22, 35, 64, 16 e 18. Agora em 22. A História pode repetir-se. O bem sempre venceu o mal. Estamos aqui porque acreditamos no nosso povo e o nosso povo acredita em Deus", referiu o presidente, citado pela imprensa brasileira, que é candidato a um segundo mandato presidencial, no entanto, tem-se mantido atrás de Lula da Silva em todas as sondagens divulgadas.
Os números citados por Bolsonaro dizem respeito a datas de viragem no quadrante político brasileiro, como é o caso de 1964, ano em que ocorreu um Golpe Militar que fez cair o Governo do presidente João Goulart e deu início a uma ditadura que durou até 1985.
Apelo ao voto
As palavras escolhidas pelo líder para assinalar o dia da independência brasileira foram criticadas pela oposição e aumentam os temores do que poderá acontecer no país caso o presidente perca as eleições, sobretudo porque foram acompanhadas por cartazes erguidos por apoiantes pró-Bolsonaro, onde estavam escritas frases que contrariam a integridade democrática ao questionar a Constituição brasileira, pedindo uma intervenção militar que resulte na destituição dos membros que constituem o Senado, o Congresso e o Supremo Tribunal Federal.
Apesar dos apelos dos apoiantes, e de ter vindo a questionar a fiabilidade do sistema eleitoral, Bolsonaro aproveitou a importante data do calendário brasileiro para apelar ao voto e, após o desfile, onde foi aplaudido por milhares de pessoas, optou por um discurso moderado: "Podem ter certeza, é obrigação de todos jogarem dentro das quatro linhas da nossa Constituição. Nós traremos para dentro dessas quatro linhas todos aqueles que ousam ficar fora delas", garantiu, depois de nas celebrações do 7 de setembro de 2021 ter proferido ataques contra as instituições democráticas.
Ao contrário do candidato do Partido Liberal, Lula da Silva pediu aos apoiantes que evitassem manifestações para impedir confrontos com os rivais. Nas redes sociais, o ex- presidente assinalou o bicentenário da independência, ao lembrar que a data deveria ser celebrada com "amor e união", lamentando a situação em que o país está mergulhado. "Tenho fé que o Brasil vai reconquistar a sua bandeira, a sua soberania e a democracia", acrescentou o candidato mais bem posicionada na disputa eleitoral.
Diplomacia
Marcelo lado a lado com Bolsonaro durante desfile
O chefe de Estado português, Marcelo Rebelo de Sousa, assistiu, esta quarta-feira, ao desfile militar do 7 de setembro mesmo no centro da tribuna, ao lado do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro. O presidente da República ficou a maior parte do tempo entre Bolsonaro e o vice-presidente do Brasil, Hamilton Mourão, enquanto os outros dois chefes de Estado presentes em Brasília - Umaro Sissoco Embaló, da Guiné-Bissau, e José Maria Neves, de Cabo Verde - ficaram um pouco mais afastados, junto à mulher de Jair Bolsonaro, Michelle. Marcelo Rebelo de Sousa chegou ao Brasil no dia anterior e reuniu-se com Bolsonaro no Palácio Itamaraty, em Brasília. "Correu muito bem", frisou Marcelo Rebelo de Sousa, revelando que aproveitou o momento para contar ao presidente brasileiro "a História de D. Pedro, a vida de D. Pedro. Isso foi um grande ponto de partida", declarou. Na quinta-feira, o chefe de Estado português irá marcar presença numa sessão solene no Congresso Nacional. Na sexta-feira, termina a viagem com uma receção à comunidade portuguesa no Navio Escola Sagres, no Rio de Janeiro.
A reter
Ausências notadas
Apesar de terem sido convidados, os presidentes do Congresso, do Senado e do Supremo Tribunal Federal optaram por não marcar presença nas celebrações.
Grito dos Excluídos
No dia em que se celebrou o episódio do "Grito do Ipiranga", que teve D. Pedro como protagonista, um grupo de manifestantes juntou-se em São Paulo para o "Grito dos Excluídos", num protesto contra Jair Bolsonaro.
Festejos em Portugal
Por cá, o dia da independência brasileira também é visto como um marco histórico, havendo celebrações agendadas ao longo da semana. Uma delas ocorre, no próximo sábado, no Palácio de São Bento, em Lisboa, onde os visitantes, de forma gratuita, podem viver uma experiência de contacto com a cultura brasileira.