O Airbnb está provocar celeuma em Israel depois de ter decidido não permitir que casas situadas nos colonatos da Cisjordânia possam ser listadas no site. O governo israelita está furioso.
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Trata-se, diz Israel, de "uma capitulação".É um um passo em direção à paz, asseguram os palestinianos.
Duzentas casas listadas no serviço de arrendamento Airbnb vão ter de ser retiradas, nos próximos dias, garantiu a empresa. "Concluímos que devíamos remover as casas nos colonatos israelitas na Cisjordânia ocupada, que estão no centro da disputa entre israelitas e palestinianos", anunciou a empresa. "A nossa esperança", acrescenta, "é que um dia, mais cedo do que tarde, seja trabalhado um cenário em que a comunidade global esteja alinhada de forma a haver uma resolução para este conflito e um caminho claro que toda a gente possa seguir.
Em 1967, Israel ocupou a Cisjordânia e começou a construir colonatos na zona, que, lembra a Reuters, grande parte das potências mundiais considera ilegais. Os palestinianos dizem que são um obstáculo ao objetivo de estabelecer um Estado. Israel não concorda.
O Airbnb tem sofrido pressões dos lóbis palestinianos e dos seus apoiantes para não permitir os anúncios de casas situadas nos colonatos, opção que Israel tem combatido com veemência, apelidando a pressão de boicotes ao processo de paz.
O ministro do Turismo israelita apelidou o anúncio da Airbnb "a mais infeliz das infelizes capitulações ao esforços de boicote". Yarin Levin diz que o seu governo não foi informado da decisão e que iria responder apoiando processos a serem movidos, nos tribunais americanos, pelos donos das casas que perderam a possibilidade de arrendar via Airbnb.
Waleed Assraf, líder de um grupo anti-colonatos palestiniano, elogiou a decisão. À Reuters, afirmou que, caso outras companhias fizessem o mesmo, "seria uma contribuição para conseguir a paz".
Mas a decisão é tudo menos consensual. O edil do colonato de Efrat lembrou que a decisão é contrária à missão da empresa, que incluis ajudar "juntar pessoas no maior número de lugares possíveis em todo o Mundo". "Quando decidem uma coisa destas, estão a envolver-se em política, o que vai derrotar o objetivo da empresa", afirmou Oded Revivi.
A associação humanitária "Human Rights Watch" considera que é "um importante reconhecimento de que as listagens [nos colonatos israelitas] não se coadunam com as responsabilidades em relação aos direitos humanos", que essas empresas têm. "Pedimos que outras empresas façam o mesmo". A associação vai publicar em breve um relatório precisamente sobre o arrendamento a turistas nos colonatos.
Cerca de 500 mil israelitas vivem na Cisjordânia e na zona leste de Jerusalém, em áreas em que habitam mais de 2,8 milhões de palestinianos. Israel considera a Cisjordânia, que aliás é o berço bíblico do judaísmo, essencial para a sua segurança nacional. A região é o cerne da disputa territorial e política que opõe os israelitas aos palestinianos, que querem incluir a Cisjordânia num eventual Estado, incluindo a Jerusalém Este e a Faixa de Gaza.
Problemas em todo o mundo
Empresas que fornecem a possibilidade de arrendamento de curta duração, como o Airbnb, têm estado nas bocas do Mundo desde que, ao longo dos últimos cinco anos ganharam uma forte notoriedade. Milhões de pessoas em todo o Mundo usam os serviços, tanto para rentabilizarem os seus imóveis, como para aproveitar preços mais baixos do que os hotéis quando viajam.
O encontro entre as duas vontades, a de viajar e a de ganhar dinheiro com viajantes, faz-se em sites como o Airbnb, e tem contribuído para transformar as zonas turísticas das cidades, por promoverem o investimento imobiliário desenfreado, com o objetivo único do arrendamento deste tipo, afastando os locais das zonas nobres e fazendo subir sem controlo os preços das casas.
O problema é fácil de descrever: como fazer coincidir a livre iniciativa e a promoção do investimento, sem que isso prejudique as necessidades locais da população. A resolução não tem sido fácil, com ambos os lados a reclamarem das autoridades soluções que possam concertar ambas as vontades.
Metrópoles como Berlim, Barcelona, Toronto ou Paris tomaram medidas para limitar o número de propriedades usadas para este tipo de arrendamento. A China e o Japão também introduziram limitações aos serviços deste género.
Em Dublin, na Irlanda, por exemplo, o problema a falta de casas para arrendamento de longa duração tornou-se de tal maneira grave que o Governo teve de introduzir também limitações. Agora, os novos regulamentos não permitem que segundas habitações possam ser arrendadas a curto prazo, a menos que uma comissão reguladora o permita. E só podem arrendar as suas residências permanentes durante um máximo de 90 dias por ano e, no máximo, durante 14 dias seguidos. As novas regras colocam restrições no caso de a intenção ser apenas de um quarto dentro da residência.