A menina de três anos que, um dia, a brincar com os fósforos e um candeeiro a álcool, causou um incêndio lá em casa dos pais, é a mesma Giorgia Meloni que, decorridas mais de quatro décadas sobre o incidente caseiro, se apresta a provocar mais uma peripécia de consequências imprevisíveis, agora para o decurso da democracia italiana e da própria União Europeia.
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Giorgia lidera as sondagens para eleições deste domingo, para suceder a Mario Draghi e para se tornar na primeira mulher a aceder ao cargo de primeiro-ministro. Frequentemente comparada à francesa Marine Le Pen, é uma das estrelas ascendentes da extrema-direita na Europa. Quer renegociar os tratados europeus e pede a Bruxelas e aos parceiros europeus que ponderem a remodelação da União numa "comunidade de estados soberanos". "Li artigos na imprensa internacional nos quais sou descrita com um perigo para a democracia, para estabilidade italiana, europeia e internacional", observa a própria, a demarcar-se do retrato que lhe fazem.
Giorgia tem um programa: ultraconservador, nacionalista, anti-imigração e contra o que qualifica como "lobbies LGBT". Posiciona-se contra "o inverno demográfico" do país, o segundo mais envelhecido do mundo industrializado, só atrás do Japão. Nasceu a 17 de janeiro de 1977, em Roma, e não demorou a revelar uma forte personalidade. Tinha 11 anos quando os pais se separaram. Nunca mais viu o pai, radicado nas Canárias. Aos 15 anos lançou-se na política: aderiu ao Movimento Social Italiano, um sucedâneo pós-fascista.
Aos 19, já andava a reabilitar e promover a memória de Mussolini. Em 2008, aos 31 anos, tornou-se na mais jovem ministra da história italiana. Pela mão de Berlusconi, ocupou-se da pasta da Juventude. Quatro anos depois, foi cofundadora do partido "Fratelli d"Italia" (Irmãos de Itália), de que se tornou presidente, em 2014. Com o tempo, o partido foi ganhando popularidade: em 2013, obteve 1,3% do eleitorado; hoje, está à cabeça das sondagens, com cerca de 25% das intenções de voto.
Concorre em coligação, com o patrono político, Silvio Berlusconi, da Força Itália, e com Matteo Salvini, da Liga Norte, e assume posições políticas fraturantes, frequentemente polémicas. Opõe-se ferozmente ao casamento gay e à adoção homoparental. Propõe o fecho das fronteiras aos migrantes. "Sim à universalidade da cruz! Sim às fronteiras seguras! Não à violência islamista!", repete em todos os comícios. Em 2020, foi eleita presidente do grupo de partidos conservadores e reformistas no Parlamento Europeu. Já este ano, em maio, publicou as memórias. "Io sono Giorgia" (Eu Sou Giorgia) vendeu 160 mil exemplares em menos de três meses.