As máquinas que erguem, dia e noite, o novo World Trade Center vão silenciar-se este domingo para assinalar a passagem dos dez anos sobre os atentados terroristas de 11 de Setembro de 2001 que causaram, só no coração financeiro de Manhattan, 2752 mortos.
Corpo do artigo
Os nomes de todos eles, pausadamente, um após outro, serão pronunciados uma vez mais pelas famílias, na cerimónia que se realizará esta manhã (início da tarde em Portugal continental) e que vai contar com as presenças do presidente norte-americano, Barack Obama, e do seu antecessor, George W. Bush.
Não haverá discursos, mas ambos prometem ler um poema para os familiares das vítimas, os únicos autorizados a aceder à zona do Memorial do 11 de Setembro. Uma área central dos seis mil metros quadrados que ocupa o WTC, onde os nomes de todos aqueles que morreram no atentado atribuído à al-Qaeda estão perpetuados em gigantescas placas de bronze a rodear as duas "piscinas" que constituem o monumento evocativo (ver texto ao lado).
Passada a cerimónia, o silêncio vai voltar a dar lugar ao bulício de camiões, gruas e martelos pneumáticos que tanto atrai a curiosidade de hordas de turistas de todo o Mundo.
Na pedonal rua Vesey pequenas câmaras digitais dos forasteiros espreitam pelas frechas dos taipais, mas tudo o que vão registar será o betão armado do futuro parque de estacionamento subterrâneo e, ao longe, muitas dezenas de trabalhadores empoleirados em andaimes. É que o World Trade Center (WTC) renasce a um ritmo alucinante, mas o principal arranha-céus do complexo, a chamada Torre da Liberdade (541 metros de altura), só deverá estar concluído em 2013.
Dois anos mais tarde estima-se que os últimos três prédios (a torre dois, do arquitecto Norman Foster, a três, de Richard Rogers e a quatro, de Fumihiko Maki) possam finalmente cativar de novo as empresas para a baixa de Manhattan.
Por enquanto só a Torre Um, com que os arquitectos Skidmore, Owings e Merril pretenderam erguer um tributo à liberdade, emerge nos ceús onde outrora reinaram as elegantes "Twin Towers" que os voos 11 da American Airlines (às 8.46 horas) e 175, da United (às 9.03 horas) destruiriam de uma forma tão dramática quanto espectacular.
A história de Brian
Foi pela televisão que Brian Lyons assistiu ao desmoronar de um dos símbolos da sua cidade, mas só mais tarde perceberia até onde a tragédia o tinha atingido. O irmão de Brian, bombeiro de Brooklyn, morreu na queda das torres e foi para homenagear a sua memória que o construtor civil decidiu primeiro limpar e depois erguer o novo WTC.
"Eu era o irmão mais velho e ele ficaria feliz por eu estar a trabalhar num projecto como este", disse Brian Lyons ao JN numa sala do "7 World Trade Center", o primeiro de cinco edifícios a ficar concluído no complexo. Brian não consegue esconder o orgulho. "Sou nova-iorquino, fiquei noivo no topo das Torres Gémeas. Eu amo esta cidade e quero vê-la crescer", acrescenta o 'contractor' que exibe pequenas bandeiras norte-americanas no capacete branco manchado de cimento e nos atacadores das coçadas botas de biqueira de aço.
Orgulhoso está também Dara McQuillan. Para o director de Marketing da Silverstein Properties "é excitante, tem-se uma perspectiva diferente quando estás lá em baixo a olhar para estes edifícios altos".
O representante dos empreendedores do WTC lembra que "podemos estar no topo do Empire State Building e ver o World Trade Center Um a aparecer na silhueta da cidade. E isso é muito importante do ponto de vista psicológico". Resta saber se as empresas respondem a este renascer do Ground Zero e começam a regressar ao coração financeiro de Nova Iorque. É que a Torre da Liberdade é um dos edifícios mais caros da história com um valor que pode atingir os sete mil euros o metro quadrado, ou seja, mais do dobro do valor cobrado no hipervalorizado mercado imobiliário de Nova Iorque.