Depois de ter sido acusado formalmente pelo suposto pagamento ilegal à atriz pornográfica Stormy Daniels, na quinta-feira, Donald Trump apontou "as armas" ao sistema judicial, ao considerar que a acusação é "perseguição política e uma interferência nas eleições presidenciais" de 2024. Os "homens fortes" do Partido Republicano falam em abuso de poder e injustiça.
Corpo do artigo
Donald Trump, de 76 anos, conseguiu mais um feito inédito para o currículo ao ser o primeiro ex-presidente da história acusado de um crime. A indicação de que seria formalmente levado à Justiça foi conhecida na quinta-feira.
Em causa está o alegado pagamento de 130 mil dólares (cerca de 120 mil euros) à estrela pornográfica Stormy Daniels, para não expor o encontro sexual entre os dois. O antigo líder da Casa Branca está a ser acusado de ter registado o pagamento como uma despesa legal, ou seja, justificou o dinheiro como honorário, durante a campanha eleitoral de 2016. O suborno por si só constitui uma violação da lei eleitoral, normalmente punida com multa, mas a falsificação do pagamento pode ser considerada fraude e a pena pode ascender até aos quatro anos de prisão.
Desde que o escândalo eclodiu que Donald Trump tem sido perentório em negar todos os indícios. "Perseguem-me de uma maneira falsa e vergonhosa porque sabem que eu estou ao lado do povo americano e que não vou ser sujeito a um julgamento justo em Nova Iorque", escreveu na rede social Truth Social. O ex-presidente falou ainda numa "perseguição política e interferência nas eleições presidenciais" de 2024. Em novembro, o republicano anunciou a terceira recandidatura à Casa Branca.
Fiel à narrativa de que há uma "caça às bruxas" para destruir o movimento "Make America Great Again", Trump deixou o recado ao atual presidente norte-americano ao garantir que a perseguição se "irá voltar contra Biden". Joe Biden, por sua vez, tem recusado pronunciar-se acerca da acusação contra Trump.
Republicanos criticam "abuso de poder"
Como seria expectável, a notícia de que Trump iria ser julgado deixou um sentimento de injustiça generalizado entre as figuras do Partido Republicano. O governador da Florida, Ron DeSantis, apontado como um dos adversários republicanos de Trump para 2024, classificou a acusação como "contrária aos valores dos Estados Unidos" e garantiu que o seu estado, onde mora o ex-presidente, não responderá favoravelmente "a um pedido de extradição" para o estado de Nova Iorque.
Também o presidente republicano da Câmara de Representantes, Kevin McCarthy, expressou apoio incondicional a Trump: "O povo americano não vai tolerar esta injustiça" e este "abuso de poder sem precedentes" por parte de Bragg, afirmou. Alvin Bragg é o procurador de Manhattan que convocou o júri para investigar o antigo líder norte-americano. Mike Pence, o ex-vice de Trump, também qualificou a acusação como uma "vergonha".
Em trajetória oposta, o Partido Democrático de Biden mostrou-se claramente satisfeito pela decisão da Justiça.
Donald Trump deverá entregar-se, para lhe tirarem as impressões digitais e ser fotografado, num tribunal de Nova Iorque, na próxima terça-feira, de acordo com uma das suas advogadas, citada pelo "Washington Post".
Apesar de Trump falar em interferência política, o caso não o deverá afastar da corrida às presidenciais de 2024, uma vez que o processo decorre num tribunal estadual de Nova Iorque. Tal só aconteceria caso fosse condenado por um crime investigado e julgado ao nível federal.