
O ministro dos Negócios Estrangeiros da África de Sul, Ronald Lamola
Foto: Kim Ludbrook/EPA
O Governo sul-africano considerou, esta segunda-feira, a chegada de avião à África do Sul de 153 palestinianos, na semana passada, "suspeita" e reveladora de "uma intenção manifesta de expulsar os palestinianos de Gaza e da Cisjordânia".
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O grupo chegou ao país a bordo de um voo "charter", e os seus passaportes não exibiam qualquer carimbo de saída de Israel.
"O Governo sul-africano suspeita das circunstâncias que envolvem a chegada deste avião", declarou o ministro dos Negócios Estrangeiros, Ronald Lamola.
Segundo os passageiros palestinianos, uma organização obscura chamada Al-Majd está envolvida na sua saída de Gaza.
"Não queremos mais nenhum voo com destino ao nosso território, porque se tratará de um plano manifesto para expulsar os palestinianos de Gaza, da Cisjordânia e das zonas circundantes, ao que a África do Sul se opõe firmemente", sublinhou Lamola.
"Isto parece fazer parte de um plano maior para deslocar os palestinianos da Palestina para diferentes regiões do mundo, e é claramente uma operação coordenada", acrescentou.
O presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, anunciou na sexta-feira que o seu país pretende investigar as circunstâncias que envolvem a "chegada misteriosa" de 153 palestinianos na passada quinta-feira ao aeroporto de Joanesburgo, num voo proveniente de Nairobi, Quénia.
Os 153 homens, mulheres e crianças foram retidos pela polícia fronteiriça dentro da aeronave durante mais de 12 horas, porque os seus passaportes não tinham carimbo de saída de Israel.
O Ministério do Interior sul-africano acabou por autorizar a entrada dos passageiros no território, depois de receber garantias da organização não-governamental (ONG) sul-africana Gift of the Givers de que cuidaria deles e os alojaria.
A ONG indicou que os palestinianos que está a ajudar disseram que tinham pagado à Al-Majd cerca de dois mil dólares por pessoa pela viagem e que não sabiam que iriam para a África do Sul.
"O que nos disseram foi que lhes foi prometida uma viagem para fora de Gaza, rumo a um local seguro num país que os acolheria", afirmou Sarah Oosthuizen, representante da Gift of the Givers, citada pela agência de notícias francesa AFP.
Alguns deles pensavam que iriam para a Indonésia, Malásia ou Índia, segundo a mesma fonte.
Na sexta-feira, o presidente sul-africano declarou que o seu país os acolheu "por compaixão" e que vai investigar "os motivos" deste voo.
Dos 153 palestinianos que chegaram na quinta-feira, 130 entraram na África do Sul com um visto temporário de 90 dias, e os outros 23 decidiram apanhar voos de ligação para os destinos escolhidos.
O fundador da ONG Gift of the Givers, Imtiaz Sooliman, afirmou na quinta-feira não saber quem tinha fretado a aeronave e revelou que um primeiro avião, transportando 176 palestinianos, aterrou em Joanesburgo a 28 de outubro em circunstâncias semelhantes, tendo alguns deles já deixado a África do Sul com destino a um país terceiro.
Os viajantes do primeiro grupo "não tinham absolutamente nenhuma ideia de que vinham para a África do Sul", indicou Oosthuizen.
O segundo avião descolou do aeroporto de Eilat, no sul de Israel, em direção a Nairobi, onde os passageiros embarcaram então num voo fretado para Joanesburgo, acrescentou.
Verificou-se que o alojamento que lhes tinha sido prometido à chegada só estava reservado por uma semana e, "assim que se instalaram, o contacto com a Al-Majd foi interrompido", segundo a representante da ONG.
Quando a AFP em Jerusalém tentou contactar a Al-Majd, nenhum dos números listados no seu "site" da Internet estava ativo.
As autoridades israelitas declararam este fim de semana que os 153 palestinianos foram autorizados a abandonar a Faixa de Gaza após terem recebido "aprovação de um país terceiro para os receber", sem nomear o país em questão.
A África do Sul, que vai receber a cimeira do G20 no próximo fim de semana, é considerada uma das mais fervorosas apoiantes da causa palestiniana.
Além disso, o conflito em Gaza tem repercussões fortes na África do Sul, que possui a maior comunidade judaica da África subsariana.
Pretória apresentou uma queixa contra Israel ao Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) no final de 2023, acusando-o de "cometer genocídio" dos palestinianos na guerra travada na Faixa de Gaza desde 7 de outubro de 2023, em retaliação a um ataque em Israel perpetrado no mesmo dia pelo movimento islamita palestiniano Hamas, desde 2007 no poder naquele enclave palestiniano.
