O diretor da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) anunciou esta quarta-feira que comparecerá na quinta-feira no Conselho de Segurança da ONU para promover uma zona de proteção em torno da central nuclear ucraniana de Zaporíjia.
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Na abertura da Conferência Ministerial da AIEA em Washington, Rafael Grossi destacou que estará ausente por algumas horas desse encontro que se encerra na sexta-feira para pedir a implementação "rápida" de uma área de proteção da central.
Zaporíjia é ocupada pela Rússia desde março e a AIEA reiterou que as suas repetidas interrupções demonstram o quão precária continua a situação de segurança nuclear daquela central - a maior da Europa - com o atual conflito militar na Ucrânia.
O diplomata argentino havia apontado na semana passada que continuava com as consultas para tentar chegar a um acordo com as partes para criar uma zona de proteção, tendo insistido ser "imperativo" alcançar esse pacto "o mais rápido possível".
A AIEA está a negociar com Moscovo e Kiev para que a central não seja alvo militar ou usada como base para lançar ataques, e para tal Grossi reuniu-se recentemente com os Presidentes da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e da Rússia, Vladimir Putin.
No seu discurso na abertura da Conferência Ministerial, Grossi enviou uma mensagem de solidariedade "aos necessitados em muitos continentes, e em particular à Ucrânia, que enfrenta a guerra".
"Precisamos evitar um grave acidente nuclear", apelou Grossi.
Este evento na capital norte-americana reúne, em formato híbrido, ministros e outros formuladores de políticas de todo o mundo para discutir o papel da energia atómica na segurança energética, mitigação das mudanças climáticas e o desenvolvimento sustentável, conforme um anúncio feito pela AIEA em meados deste mês.
Hoje, a energia atómica contribui com cerca de 10% da produção mundial de eletricidade e as últimas projeções da AIEA sugerem que a capacidade mundial de geração nuclear poderá mais do que duplicar até 2050.
O diretor-executivo da Agência Internacional de Energia, Fatih Birol, destacou numa mensagem virtual que o mundo está a passar pela sua primeira "verdadeira crise energética global" e culpou a invasão russa da Ucrânia pela situação.
A secretária de Energia dos Estados Unidos, Jennifer Granholm, acrescentou a esse respeito que a guerra está a levar os países a ponderarem se querem que o seu abastecimento de energia dependa de outra nação ou se querem gerá-lo "em casa", e defendeu que é um bom momento para considerar o uso da energia nuclear "do ponto de vista climático e de segurança energética".
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 13 milhões de pessoas -- mais de seis milhões de deslocados internos e mais de 7,7 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 6374 civis mortos e 9776 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.