A Alemanha celebra no sábado os 25 anos do Tratado de Reunificação que pôs termo a quatro décadas de divisão do país e concluiu um processo de reconciliação iniciado no final de 1990 com a queda do Muro de Berlim.
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Foi um dos acontecimentos mais determinantes da política europeia e internacional contemporâneas, que anunciou o fim da Guerra Fria.
Após a derrota do III Reich na Segunda Guerra Mundial, as quatro potências vencedoras dividiram o território alemão em zonas de influência, o que em 1949 implicou a fundação das duas Alemanhas, a República Federal da Alemanha (BRD/RFA), na zona ocupada pelos exércitos dos Estados Unidos, Reino Unido e França, e a República Democrática Alemã (DDR/RDA), com um regime na órbita de Moscovo.
Em maio de 1955 e janeiro de 1956, os dois países aderiram respetivamente à NATO e ao Pacto de Varsóvia.
A revolta de 16 e 17 de junho de 1953 contra o regime de Berlim-leste, o estatuto especial da cidade de Berlim e o bloqueio à "parte ocidental" da cidade pelas autoridades da RDA, a construção do Muro em 1961 ou a "Ostpolitik" (Política de Leste) - designação da abertura aos países do leste, incluindo RDA e União Soviética protagonizada pelo chanceler Willy Brandt entre 1969 e 1974 - e mesmo as competições olímpicas, são alguns dos marcos relevantes nas "relações" entre as duas Alemanhas em período de Guerra fria.
A era da "perestroika", impulsionada por Mikhail Gorbatchov, o último presidente da União Soviética, extinta em dezembro de 1991, também criou condições para a "revolução pacífica" na Alemanha e posterior reunificação, iniciada com o derrube do Muro de Berlim em 3 de outubro de 1990.
No entanto, foi necessário esperar 11 meses após a queda do Muro para a concretização deste processo, com a entrada em vigor em 3 de outubro de 1990 do Tratado de Reunificação, pelo qual a RDA passou a fazer parte da República Federal.
Este desfecho correspondia à vontade dos alemães dos dois Estados. Nas primeiras, e únicas, eleições livres para a Câmara do Povo (parlamento leste-alemão) em 18 de março de 1990, a grande maioria dos eleitores votou nos partidos que defendiam uma adesão rápida da RDA à República Federal alemã (RFA).
O processo foi decidido durante o verão entre os dois Estados alemães através de um tratado, como já tinha sucedido com a união monetária de 1 de julho de 1990, quando o marco da RFA se impôs no leste.
Em paralelo, a República Federal e a RDA definiram com as quatro potências que assumiam a responsabilidade de Berlim e da Alemanha no seu conjunto (Estados Unidos, União Soviética, Reino Unido e França) as condições de política externa e de segurança da unidade alemã, prescrita no Tratado 2+4.
Nesta "regulação final relativa à Alemanha", adotada em Moscovo em 12 de setembro de 1990 entre os dois Estados alemães e os vencedores da Segunda Guerra Mundial, foi estabelecida a unidade alemã a nível internacional. O tratado restabeleceu a plena soberania da Alemanha, com as suas fronteiras reconhecidas como definitivas e a exigência de renúncia a qualquer reivindicação territorial.
A "questão alemã" teve ainda de ser resolvida com o acordo de todos os vizinhos da Alemanha, o que implicava também solucionar a "questão polaca", um contencioso com vários séculos. O reconhecimento definitivo e vinculativo, no plano internacional, da fronteira ocidental da Polónia ao longo dos rios Oder e Neisse também constituiu uma pré-condição à reunificação da Alemanha nas fronteiras de 1945.
À reunificação alemã correspondeu a posterior desintegração de diversos Estados do leste europeu, da União Soviética, Checoslováquia ou Jugoslávia, neste último caso com uma importante "ingerência" de Berlim.
Após 25 anos de reconciliação, com custos avaliados em cerca de dois biliões de euros, e apesar de uma aproximação no nível de vida entre alemães do oeste e do leste, os "länder" (estados federados) da ex-RDA permanecem mais pobres, com maior taxa de desemprego e população mais envelhecida.
Mas o balanço final é inquestionável. O "gigante germânico" renasceu das cinzas do "império soviético", confirmou-se como o "motor" da União Europeia e de uma zona euro em gestação e é hoje dirigido por uma chanceler proveniente da antiga Alemanha de leste.