Alimentos ultraprocessados devem ter imagens chocantes como as do tabaco, defende cientista
Um cientista nutricional brasileiro, que cunhou o termo "alimentos ultraprocessados", defende que estes deviam ser vendidos com advertências semelhantes às do tabaco devido aos riscos que representam.
Corpo do artigo
"Os alimentos ultraprocessados estão a substituir alimentos mais saudáveis e menos processados em todo o Mundo e também a causar uma deterioração na qualidade da dieta devido aos seus diversos atributos prejudiciais. Juntos, estes alimentos estão a impulsionar a pandemia da obesidade e de outras doenças crónicas relacionadas com a alimentação, como a diabetes", disse Carlos Monteiro, da Universidade de São Paulo, no Brasil, em entrevista ao jornal britânico "The Guardian".
Carlos Monteiro usou o termo "alimentos ultraprocessados" pela primeira vez há 15 anos ao projetar o sistema de classificação de alimentos “Nova”, que avalia não só o conteúdo nutricional, mas também os processos pelos quais os alimentos passam antes de serem consumidos. O sistema divide alimentos e bebidas em quatro grupos: alimentos minimamente processados, ingredientes culinários processados, alimentos processados e alimentos ultraprocessados.
O alerta surge numa altura de rápido aumento do consumo global de alimentos ultraprocessados, como cereais, barras de proteínas, refrigerantes, refeições prontas e fast-food. Um estudo de fevereiro concluiu que o consumo deste tipo de alimentos aumenta o risco de desenvolver 32 patologias como doenças cardiovasculares, diabetes do tipo 2, doenças mentais, cancro e mortalidade precoce. Segundo o estudo, as provas mais fortes dizem respeito a doenças cardiovasculares, cujo risco dispara para os 50%. Já o risco de desenvolver ansiedade e outras doenças mentais, como depressão, é de 48 a 53% e de 12% na incidência de diabetes tipo 2. Foram ainda encontradas ligações a problemas gastrointestinais, alguns cancros, colesterol e asma, mas menos evidentes.
Ao "The Guardian", o cientista nutricional disse estar preocupado com o impacto destes alimentos na saúde humana, uma vez que os estudos já não parecem ser suficientes para alertar o público sobre os seus perigos. "São necessárias campanhas de saúde pública, como as contra o tabaco, para reduzir os perigos dos alimentos ultraprocessados”, sugeriu. "Anúncios de alimentos ultraprocessados também devem ser proibidos ou fortemente restringidos e devem ser introduzidas advertências nas embalagens semelhantes às usadas nos maços de cigarros".
Para Carlos Monteiro, há várias semelhanças entre os alimentos ultraprocessados e o tabaco: ambos causam inúmeras doenças graves e mortalidade prematura; ambos são produzidos por empresas transnacionais que investem os enormes lucros que obtêm com os seus produtos em estratégias de marketing agressivas e no lobby contra a regulamentação; e ambos são perigosos.
Além disso,o cientista defende que "as vendas de alimentos ultraprocessados em escolas e unidades de saúde devem ser proibidas e deve haver uma tributação pesada dos alimentos ultraprocessados, com as receitas geradas utilizadas para subsidiar alimentos frescos”.