Um tribunal italiano voltou a condenar, esta quarta-feira, Amanda Knox por difamação após acusar um homem inocente de matar a sua colega de quarto britânica em 2007, um assassinato pelo qual ela mesma foi presa antes de ser absolvida.
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A norte-americana foi condenada a três anos por ter acusado, durante um interrogatório policial, Patrick Lumumba, dono de um bar, do assassinato de Meredith Kercher, de 21 anos. Depois de ser implicado, Lumumba passou quase duas semanas detido antes de ser libertado sem acusação.
Segundo a AFP, o advogado Carlo Dalla Vedova disse que Amanda Knox "está muito chateada com o resultado desta audiência" e anunciou que poderá recorrer assim que examinar o veredicto detalhado, que será publicado dentro de 60 dias.
Amanda Knox tinha 20 anos quando foi detida, juntamente com o namorado italiano Raffaele Sollecito, pelo assassinato da colega Meredith Kercher, com quem vivia em Perugia, em novembro de 2007. Seguiu-se uma longa saga jurídica, onde a dupla foi considerada culpada, absolvida, considerada culpada novamente e finalmente inocentada em 2015.
No entanto, a norte-americana ainda tinha uma condenação por difamação em 2011, que acarretava uma pena de três anos já cumpridos, por inicialmente ter dito à polícia que Patrick Lumumba era o assassino. O mais alto tribunal italiano rejeitou o veredicto em recurso em outubro passado e ordenou um novo julgamento, que começou no início deste ano.
Esta quarta-feira, na audiência final, Amanda Know pediu desculpa por ter nomeado Lumumba e acusou a polícia de pressão. “Lamento muito não ter sido forte o suficiente para ter resistido à pressão policial. Fui assustada, enganada e maltratada. Dei o testemunho num momento de crise existencial”, disse Knox, agora com 36 anos e mãe de dois filhos, acrescentando que foi interrogada "durante horas e horas", numa língua que "mal conhecia" e sem um tradutor ou um advogado. "Eu não sabia quem era o assassino. Eles recusaram-se a acreditar em mim".
A sentença de três anos não tem efeito prático, uma vez que Amanda Knox já os cumpriu quando passou quatro anos detida em Itália pelo homicídio de Kercher antes de ser absolvida. No entanto, terá de pagar as custas judiciais e uma indemnização a Lumumba, cuja quantia ainda não foi definida.
Em declarações à agência de notícias ANSA, Lumumba disse que “a sentença é justa e merecida”. Segundo o advogado Carlo Pacelli, a acusação mudou a vida do cliente. “Quando foi acusado por Amanda, tornou-se universalmente considerado o monstro de Perugia”, afirmou.
Crime teve atenção mundial
O corpo seminu de Kercher foi encontrado numa poça de sangue dentro de casa em novembro de 2007. Tinha sofrido várias facadas e tinha sido degolada.
O julgamento por homicídio, que gerou interesse global, centrava-se nas alegações dos procuradores de que Kercher morreu como parte de um jogo sexual que correu mal.
No entanto, o mais alto tribunal da Itália, ao absolver Amanda Knox e Raffaele Sollecito, disse que houve "falhas graves" na investigação policial.
A agora jornalista, autora e defensora da reforma da justiça criminal levou o caso ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos que decidiu, em 2019, que Amanda Knox não recebeu representação legal adequada ou um intérprete profissional durante o interrogatório.
Rudy Guede, associado ao local do crime por ADN, foi o único condenado, em 2008, a 30 anos por assassinato e agressão sexual de Kercher. A sentença foi posteriormente reduzida para 16 anos. Guede foi libertado no início de novembro de 2021.