Reunidos em Omã este sábado, autoridades de Teerão querem fim das sanções norte-americanas, enquanto as de Washington querem evitar arma atómica iraniana. Novas negociações estão marcadas para o próximo fim de semana.
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Na mesma cidade em que o acordo nuclear de 2015 foi fechado, Irão e Estados Unidos voltaram a reunir-se após uma década, num cenário de crescente pressão pelo presidente norte-americano, Donald Trump, que quer impedir que os iranianos desenvolvam uma arma atómica. O encontro indireto entre as delegações de Teerão e de Washington na capital de Omã, Mascate, serviu para os dois países acordarem novas negociações para a próxima semana.
O ministro dos Negócios Estrangeiros de Omã, Badr Albusaidi, serviu de intermediário, levando as posições de um país para o outro, uma vez que as delegações estavam em salas diferentes de um hotel. O chefe da diplomacia de Mascate afirmou que o início de “um processo de diálogo e negociações com o objetivo comum de concluir um acordo justo e vinculativo” ocorreu num “ambiente amigável”. Teerão e Washington concordaram em ter novas conversações no próximo sábado.
O encontro foi indireto, apesar de os EUA desejaram uma reunião frente a frente. O Irão revelou, no entanto, que os interlocutores de ambas as delegações conversaram diretamente por “alguns minutos”. “Nem nós nem a outra parte queremos negociações infrutíferas, discussões por discussões, perdas de tempo ou conversas que se arrastam para sempre”, salientou o ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Abbas Araghchi.
“O lado americano disse ainda que um acordo positivo é aquele que pode ser alcançado o mais rapidamente possível”, ressaltou o chefe da Teerão, em declarações à televisão estatal iraniana. “Isto não será fácil e exigirá vontade de ambas as partes”, acrescentou.
“Durante a reunião, penso que nos aproximámos muito de uma base para negociações”, pontuou Araghchi, que tem como objetivo diminuir o impacto das sanções norte-americanas contra o Irão. "Na nossa próxima reunião, se conseguirmos finalizar esta base, teremos percorrido grande parte do caminho", concluiu.
A Casa Branca destacou, em comunicado, que o encontro permitiu um diálogo “positivo e construtivo”. “Estas questões são muito complicadas, e a comunicação direta do enviado especial [Steven] Witkoff hoje foi um passo em frente para alcançar um resultado mutuamente benéfico”, completou.
Antes das conversações, Witkoff frisou ao diário “The Wall Street Journal” que Washington quer um desmantelamento total do programa nuclear do Irão – algo muito improvável de Teerão concordar. “Isto não significa, aliás, que não vamos encontrar outras formas de chegar a um compromisso entre os dois países”, declarou o enviado.
“Pressão máxima” de Trump
O Irão vai à mesa de negociações enfraquecido com a queda de Bashar al-Assad, na Síria, bem como a debilitação dos grupos armados Hezbollah, no Líbano, e Hamas, na Faixa de Gaza – todos membros do autointitulado Eixo de Resistência, que luta contra a presença dos EUA e de Israel no Médio Oriente. A volta de Trump significou o regresso da política de “pressão máxima” da Casa Branca, com o presidente norte-americano não descartando o uso de força militar.
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Capacidade
Teerão diz que o programa nuclear tem fins civis e que não tem planos para desenvolver armas nucleares. Segundo a Agência Internacional de Energia Atómica, o Irão tem 275kg de urânio enriquecido a 60%, que pode rapidamente ser convertido para a pureza de 90%, nível requerido para produzir uma arma. Tal quantidade permitiria a fabricação de cerca de seis armas.
Acordo de 2015
O acordo com EUA, China, França, Rússia e Reino Unido, em 2015, limitou os usos do programa nuclear iraniano e facilitou inspeções. Em troca, caíram as sanções a Teerão. Ruiu após Trump retirar os EUA, em 2018.