A Amnistia Internacional condenou, esta segunda-feira, a detenção, em Londres, do brasileiro David Miranda, companheiro do jornalista norte-americano Glenn Greenwald, a quem o ex-analista da NSA Edward Snowden entregou informações sobre espionagem dos Estados Unidos.
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"A detenção de Miranda foi ilegal e não tem desculpa. Foi detido numa violação de todo o princípio de equidade" e "comprova-se que a lei pode ser abusiva por razões mesquinhas e vingativas", referiu uma nota divulgada hoje pela organização dos direitos humanos.
O companheiro do jornalista norte-americano foi detido e mantido incomunicável pelas autoridades britânicas por nove horas, no domingo, com base na lei de combate ao terrorismo daquele país europeu.
David Miranda chegou hoje ao Rio de Janeiro e foi recebido no aeroporto por Greenwald.
O jornalista norte-americano disse à imprensa que não deixará de publicar os documentos que recebeu de Edward Snowden, entre os quais alguns relativos ao Reino Unido.
O Governo do Brasil qualificou como uma "medida injustificável" a detenção do brasileiro David Miranda.
"Trata-se de medida injustificável por envolver indivíduo contra quem não pesam quaisquer acusações que possam legitimar o uso de referida legislação", afirmou o Ministério das Relações Exteriores brasileiro (Itamaraty), divulgado na noite de domingo.
O Itamaraty declarou ainda que o Governo brasileiro manifestou "grave preocupação" e espera "que incidentes como o registado com o cidadão brasileiro não se repitam".
Greenwald, colunista do jornal britânico The Guardian, é autor de diversas reportagens a respeito de programas de espionagem da Agência de Segurança Nacional americana (NSA, na sigla em inglês), com base em documentos fornecidos pelo ex-analista de inteligência Edward Snowden, exilado na Rússia.
Greenwald e Miranda conheceram-se em 2004 no Rio de Janeiro, onde vivem.
Quando foi detido em Londres, David Miranda voltava da Alemanha, onde se havia encontrado com uma cineasta que tem trabalhado com Greenwald.
No dia 06 de agosto, Greenwald esteve no senado brasileiro e afirmou ter provas de que os norte-americanos usam a Internet para obter vantagens comerciais e tecnológicas.
A afirmação contraria o argumento do Governo de Barack Obama de que a NSA usa a vigilância na Internet somente para proteger os seus cidadãos do terrorismo.
No dia seguinte, uma autoridade do Governo brasileiro disse ao jornal O Estado de São Paulo que, caso Greenwald solicitasse, o Brasil estaria disposto a dar proteção ao jornalista contra uma eventual pressão dos Estados Unidos e dos seus aliados.
Na avaliação do Governo brasileiro, Greenwald não poderia retornar aos Estados Unidos sem enfrentar o risco de ser enquadrado pelo mesmo tribunal secreto que autoriza o monitoramento da NSA no território americano e no exterior.
A detenção de Miranda levou igualmente o presidente da comissão parlamentar britânica do Interior a anunciar que vai pedir "esclarecimentos" à Polícia Metropolitana de Londres.
Em declarações à rádio BBC 4, o presidente da comissão parlamentar do Interior, Keith Vaz, afirmou que vai pedir esclarecimentos sobre esta "nova utilização da legislação contra o terrorismo", referindo o facto de ter sido detida uma pessoa apenas por estar relacionada com alguém suspeito.
"Se se vai utilizar a legislação desta maneira, pelo menos precisamos sabê-lo para que todos estejam preparados", afirmou o deputado trabalhista.