Khadija Saye tinha alcançado um ponto alto da carreira, ao expor na Bienal de Veneza. Morreu na torre Grenfell, em Londres, após anos a lutar para fugir à pobreza e quando tinha o reconhecimento ao alcance.
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A notícia da morte de Khadija Saye foi confirmada pela família. A jovem artista plástica, de 24 anos, estava dada como desaparecida desde a madrugada de quarta-feira, quando ardeu a torre Grenfell, em Londres.
Khadija vivia e trabalhava num apartamento que dividia com a mãe no 20.º andar da torre Grenfell, em Londres. Há pouco mais de um mês anunciou, num post no Facebook, o convite para participar numa exposição destinada a artistas emergentes na Bienal de Veneza, em Itália.
"Foi uma grande jornada, de altos e baixos, lágrimas foram derramadas, mas mamã, sou uma artista a expor na Bienal de Veneza e as bênçãos são abundantes".
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10154679893132831
Um "post" emotivo e que resume a vida de luta de Khadija. Nascida em Londres, filha de emigrantes da Gâmbia, em África, estudou na escola local, mas aos 16 anos ganhou uma bolsa para a prestigiada Rugby School.
"Estava extremamente grata pela experiência, mas disse-me uma vez que foi a coisa mais difícil que fez", contou Nicola Green, amigo e mentor de Khadija, que dizia frequentemente sentir-se como um peixe fora de água, uma pobre filha de emigrantes entre privilegiados naquela escola.
Após a "Rugby School", Khadija entrou para a prestigiada Universidade de Artes Criativas. Pagou os estudos, e suportou a própria arte, com um emprego como auxiliar de ação médica.
Um percurso de vida difícil, que incluiu uma detenção. Conseguiu limpar o nome, demonstrando que tinha sido injustamente acusada, mas mesmo assim a polícia ficou-lhe com o telemóvel, e por isso foi através do Facebook que fez apelos desesperados de ajuda.
Foi o trabalho "Dwelling: in this space we breathe", uma série de fotografias usando técnicas do Século XIX sobre a emigração da Gâmbia, expostas na Bienal de Veneza, que chamaram a atenção de Andrew Nairne, diretor da galeria "Kettle"s Yard", que se encontrou com a artista dias antes do incêndio, conta o jornal "The Guardian".
"Criou um trabalho extraordinário, muito poderoso", disse, citado por aquele jornal britânico. É uma tragédia. Tinha um futuro memorável pela frente", lamentou.