Canal no Telegram publica vídeos da repressão dos protestos pacíficos contra os resultados das presidenciais.
Corpo do artigo
1294190561692352512
Esta quinta-feira, as imagens - em vídeo ou fotografia - eram quase todas de cordões humanos, mais ou menos extensos, em várias localidades, com balões e flores, tudo branco. Mas um desfiar mais atento permitia parar em imagens obscuras. Um camião a avançar sobre a multidão. Um agente vestido de negro a bater num carro e, depois, ele e outros a espancarem o automobilista que ousou queixar-se e a levá-lo para dentro de um autocarro, costas, braços, pernas, nádegas desnudas a revelar o sangue pisado, a repressão.
É a conta do canal "Nexta Live", fundado por Pavel Durov e com sede física em Varsóvia, na Polónia, e tornou-se um dos poucos espaços não censurados com informação da Bielorrússia. E é o ecrã da repressão das manifestações que contestam os resultados das presidenciais de domingo passado, que reelegeram Alexandr Lukashenko para um sexto mandato, ao cabo de 26 anos de poder.
12516055
Desceram à rua pedindo a recontagem transparente dos votos - 80% estão oficialmente atribuídos a Lukashenko -, foram respaldados pelas mais diversas vozes na comunidade internacional e têm sido travados com a força. Em quatro noites de protesto somaram-se 6700 detidos, dois mortos, centenas de feridos e a saída da candidata opositora do país.
"Alguém"
O Nexta - "alguém", em bielorrusso - procura transmitir os vídeos que lhe são enviados, alerta os cidadãos para os locais onde há polícia, dá moradas de esconderijos e ensina como obviar aos bloqueios de Internet. E garante que verifica as mensagens, coisa que sites da oposição contestam. O que importa é mostrar o banho de sangue em que se transformaram as ruas de Minsk, assegura à BBC o editor do canal, Roman Protasevich.
1294156073281048577
Certo é que a situação da Bielorrússia atraiu as atenções internacionais e este tipo de canais independentes não são alheios a isso quando os meios de comunicação oficial dependem do Estado.
Ao contrário do que aconteceu até agora, a União Europeia, os EUA e até a Rússia (oficiosamente) estão a reagir. Esta sexta-feira, os responsáveis dos Negócios Estrangeiros dos 27 reúnem-se de forma extraordinária para avaliar eventuais sanções contra Minsk.
12510024
Esta quinta-feira, Berlim - que é favorável a sanções - convocou o embaixador bielorrusso no seu país para dar conta da reprovação da repressão das manifestações naquele. E, reporta o "El País", da Rússia chegam notícias de figuras políticas russas a denunciar a "total falsificação" das eleições e a avisar que os protestos são "o fim de Lukashenko", sugerindo-lhe que fuja do país. Até porque haverá demasiada gente atenta à situação. Recorde-se que a Bielorrússia é uma espécie de tampão útil entre a Rússia e a UE.