Telavive admite que ataque de domingo à tenda com membros dos média tinha como alvo profissional do canal catari Al Jazeera.
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O ataque mortal feito pelas Forças de Defesa de Israel (FDI) que vitimou cinco jornalistas da estação catari Al Jazeera e um profissional freelancer na Faixa de Gaza, na noite de domingo, provocou indignação ao redor do Mundo. Com os israelitas a proibirem a entrada da Imprensa internacional no enclave, o silêncio deixado por estas seis pessoas torna ainda mais difícil saber a realidade do território que Telavive planeia ocupar na totalidade.
Os correspondentes Anas al-Sharif e Mohammed Qreiqeh e os videojornalistas Ibrahim Zaher, Mohammed Noufal e Moamen Aliwa, todos da Al Jazeera, foram mortos no bombardeamento contra a tenda onde se encontravam, perto do portão principal do hospital de al-Shifa, na Cidade de Gaza. O freelancer Mohammed al-Khaldi foi a sexta vítima mortal. Desde 7 de outubro de 2023, 242 jornalistas palestinianos foram mortos no enclave, segundo as Nações Unidas.
Al-Sharif era um dos repórteres mais conhecidos e deixou mulher e dois filhos. Numa mensagem escrita no dia 6 de abril e publicada no seu perfil na plataforma social X após a morte, o correspondente de 28 anos, que perdeu o pai num ataque em dezembro, sublinhou que "viveu a dor em todos os seus pormenores" e "experimentou sofrimento e perda muitas vezes". "No entanto, nunca hesitei em transmitir a verdade tal como ela é, sem distorção ou falsificação", pontuou.
"Que Alá seja testemunha contra aqueles que permaneceram em silêncio, aqueles que aceitaram a nossa matança, aqueles que nos sufocaram a respiração e cujos corações não se comoveram perante os restos mortais dispersos das nossas crianças e mulheres, não fazendo nada para impedir o massacre que o nosso povo enfrenta há mais de um ano e meio", acrescentou.
Os militares hebraicos admitiram o ataque e acusaram Sharif de comandar "uma célula terrorista" do Hamas que "foi responsável pelo lançamento de ataques com rockets contra civis israelitas e tropas das FDI". Segundo jornalistas locais que conheciam o colega da Al Jazeera, Sharif iniciou a carreira no gabinete de comunicação islamita.
"Não há justificação"
"O Direito Internacional torna claro que os combatentes ativos são os únicos alvos justificados num cenário de guerra", frisou à Agência France-Presse a chefe do Comité para a Proteção dos Jornalistas, organização que denunciara o "padrão" de Israel em rotular jornalistas como militantes "sem fornecer provas credíveis". "Logo, a menos que as FDI consigam demonstrar que Sharif ainda era um combatente ativo, não há justificação para a sua morte", assinalou Jodie Ginsberg, que ressaltou que "os jornalistas são civis" e "nunca devem ser alvos".
Os Repórteres Sem Fronteiras condenaram "veemente e furiosamente o assassinato reconhecido pelo Exército israelita" de Sharif e dos outros cinco jornalistas. O Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos qualificou o caso como uma "grave violação do Direito Internacional Humanitário".
A Al Jazeera considerou o bombardeamento "uma tentativa desesperada de silenciar as vozes que expõem a ocupação israelita" e descreveu Sharif como "um dos jornalistas mais corajosos de Gaza".