Plataformas digitais tornam-se alvo do Governo federal. Média do Brasil mudam abordagens para casos violentos.
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O Governo brasileiro está numa cruzada pela maior regulação das redes sociais no país após ataques a uma escola e a uma creche nos estados de São Paulo e Santa Catarina, em março e abril, o que resultou na morte de cinco pessoas - quatro crianças e uma professora. Enquanto os média do Brasil mudam protocolos para a cobertura deste tipo de eventos, a Polícia realiza operações contra incentivadores de novos massacres e reforça a segurança nas instituições de ensino.
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, anunciou, a 18 de abril, que 756 perfis em diversos sites foram removidos, 225 pessoas foram detidas, incluindo menores, e 1224 casos estavam sob investigação. No dia seguinte, operações policiais em cinco estados brasileiros resultaram no internamento provisório de dez adolescentes com idades entre 11 e 17 anos, suspeitos de planearem novas agressões. Segundo o jornal "O Estado de S. Paulo", o Brasil testemunhou 12 ataques mortais a escolas desde o início do século, totalizando 41 vítimas fatais.
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De acordo com o jornal "Folha de S. Paulo", diversas redes sociais, numa reunião com Dino, mostraram-se dispostas a cooperar com o Executivo federal para monitorizar mensagens de incitação à prática de crimes. Os representantes do Twitter, no entanto, negaram-se a apagar 431 mensagens sobre ataques a escolas porque estas não violavam as regras internas da plataforma, segundo o mesmo diário. A falta de colaboração com as autoridades, por enquanto, resultou na suspensão apenas do Telegram no país, entretanto revertida.
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"Entre o 8 de janeiro [invasão aos Três Poderes] e a violência nas escolas, há uma ligação óbvia. É o mesmo ethos, o mesmo paradigma, que é o da violência, do ódio", disse o ministro da Justiça. Há uma "forte consciência" do Governo brasileiro sobre os "efeitos negativos da falta de regulação" das redes sociais, destacou ao JN o diretor-adjunto do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho, Luís António Santos, pois "agentes políticos com grandes responsabilidades participaram no aproveitamento dessa ausência regulatória para promover discursos extremistas, com base em falsidades".
Polícia nas escolas
Num cenário marcado pelo medo dos pais, há um reforço de medidas de segurança, com as escolas públicas estaduais de Minas Gerais a receberem visitas periódicas de polícias militares. Já no Rio de Janeiro, o Governo criou uma divisão de inteligência na polícia para monitorizar possíveis ameaças a escolas, enquanto São Paulo anunciou a contratação de seguranças privados desarmados e de psicólogos para as escolas públicas do estado. A CNN Brasil relata um aumento de 300% na procura por empresas de segurança privada para instituições de ensino.
Para evitar dar mais notoriedade aos atacantes, órgãos de comunicação como "O Estado de S. Paulo" e o Grupo Globo alteraram os protocolos sobre a forma de noticiar tais eventos, não publicando mais os nomes e imagens dos autores dos atentados nem vídeos do acontecimento. "Essa mudança aconteceu por alguma pressão da sociedade civil mas também porque o enquadramento político do país mudou", diz Luís António Santos, que salientou ainda que a cobertura "sensacionalista" de crimes "promove um clima de instabilidade emocional permanente".
Pormenores
Suspensão do Telegram anulada
A aplicação Telegram foi suspensa, na quarta-feira, após não ter entregue todos os dados pedidos pela Justiça Federal, incluindo números telefónicos de membros de um grupo neonazi. Depois do recurso apresentado pela empresa, um tribunal do Rio de Janeiro anulou a decisão, considerando que esta "não é proporcional", mas manteve a multa de 182 mil euros por cada dia de atraso na entrega dos dados.
Atacante usava rede
A plataforma era utilizada pelo adolescente de 16 anos responsável pelos ataques a duas escolas em Aracruz, ocorridos a 25 de novembro, em que quatro pessoas morreram.