As autoridades timorenses reconheceram ter "exagerado" nas regras aplicadas durante o funeral da primeira pessoa a morrer com covid-19 em Timor-Leste, tendo adaptado o protocolo a aplicar em novos casos no país.
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"Reconheço que houve um excesso no primeiro funeral. Como o uso de uma escavadora para colocar o caixão. As autoridades de saúde reconhecem que isso foi excessivo", disse Rui Araújo, coordenador da "task-force" para a Prevenção e Mitigação da covid-19, do Centro Integrado de Gestão de Crise (CIGC).
Araújo falava em conferência de imprensa no contexto de um polémico impasse sobre o funeral de uma segunda pessoa que morreu esta semana - que se arrasta desde segunda-feira e envolve um protesto do ex-presidente timorense, Xanana Gusmão, e de familiares do homem.
O coordenador explicou que depois do primeiro caso foi feita uma avaliação interna e que os métodos, protocolo e procedimentos foram já adaptados e seriam aplicados no caso deste funeral.
As pessoas ficaram mais atrapalhadas e no terreno foram tomadas certas decisões
"Foi o primeiro caso e nesse momento todos ficaram atrapalhados. Antes foi dada formação, fizemos simulação, mas quando se enfrenta um primeiro caso, as pessoas ficaram mais atrapalhadas e no terreno foram tomadas certas decisões", reconheceu.
"A intenção é de aplicar mudanças, respeitando as tradições e costumes e estávamos preparados para aplicar isso neste segundo caso, mas como houve esse desentendimento, agora terão de ser as autoridades competentes a tomar a decisão", considerou.
Em causa está uma polémica que se arrasta desde o início da manhã de segunda-feira quando um homem, de 46 anos, morreu.
A família questionou a aplicação do protocolo previsto para o caso de mortes de pessoas infetadas com covid-19 e o líder histórico timorense Xanana Gusmão foi informado pela família do caso, tendo-se deslocado para o centro de isolamento de Vera Cruz, onde dormiu nas últimas duas noites, numa esteira no chão, num protesto para exigir que a vontade da família seja respeitada.
O responsável da Organização Mundial de Saúde (OMS) em Timor-Leste, Arvind Mathur, afirmou em declarações à Lusa que as recomendações sobre o processo fúnebre de pessoas infetadas com a covid-19 permitem "flexibilidade" e dar "espaço" para que as autoridades e a família do homem cheguem a acordo.
Uma decisão final sobre o que vai ser feito está atualmente a ser deliberada no Conselho de Ministros.
Rui Araújo disse que no primeiro óbito "não se fincou o pé na causa da morte", sendo que o facto de se ter identificado na vítima o vírus SARS-CoV-2 implica "que os procedimentos do funeral devem obedecer os protocolos para esse fim".
Araújo recusou reagir diretamente a críticas que Xanana Gusmão tem feito sobre a gestão da pandemia, incluindo do protocolo para lidar com óbitos.
"Cada cabeça com a sua sentença. O facto é que aconteceu o primeiro óbito, foi um choque para todos, incluindo para quem trabalha na linha da frente. Fez-se depois a avaliação e estamos a tentar melhorar as coisas", disse.
Rui Araújo, que sucedeu a Xanana Gusmão como primeiro-ministro, num executivo de que o ex-presidente também fazia parte, foi um dos insultados pelo líder histórico timorense em várias declarações proferidas desde segunda-feira no protesto em Vera Cruz.