Mais de 890 mil timorenses são chamados a participar, amanhã, nas eleições legislativas mais decisivas da curta história democrática do país, que comemora hoje 20 anos de independência.
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A pugna, que será acompanhada por 250 observadores internacionais, põe em confronto os dois grandes partidos - a Frente Revolucionária de Timor-Leste (Fretilin) e o Congresso Nacional para a Reconstrução de Timor-Leste (CNRT), dos históricos Mari Alkatiri e Xanana Gusmão.
Na disputa pelos 65 lugares no Parlamento Nacional, até agora repartidos esmagadoramente pela Fretilin (23) e pelo CNRT (21), participam outras 15 forças, nove das quais não têm representação parlamentar.
Com elevado desemprego, sobretudo entre os jovens (70% da população) e emigração acelerada, os timorenses anseiam a resolução de problemas básicos, como água, eletricidade e até a emissão de bilhetes de identidade. Outro desafio é a reestruturação da economia, dependente do petróleo (90% das receitas), o desenvolvimento da agricultura e das pescas, e avanços na saúde.
"É fundamental um Governo estável, consistente, para responder a carências básicas, a começar na formação, na disponibilidade de quadros suficientes com preparação para preencherem uma cadeia administrativa", nota o constitucionalista Pedro Bacelar de Vasconcelos.
Além de "projetos que possam minimizar os sacrifícios que os timorenses continuam a suportar e o ceticismo de largas camadas juvenis", é necessário "estimular uma sociedade civil que se tem revelado com pouca iniciativa".
O presidente da República, José Ramos-Horta, pediu abertamente que o partido mais votado obtenha maioria absoluta, para suster a instabilidade. Nas últimas eleições (2018), a Fretilin foi a força mais votada, mas um acordo pré-eleitoral entre o CNRT, o Partido Libertação Popular (PLP) e o Kmanek Haburas Nasional Timor Oan (P-KHUNTO) viabilizou um Executivo que durou dois anos.
Com a saída do CNRT, a Fretilin entrou no Governo de Taur Matan Ruak, do PLP, em 2020. As três forças que o compõem já têm um pré-acordo para o manter.
Atenção a grupos de artes marciais
A participação de grupos de artes marciais na campanha esteve sob a atenção da Comissão Nacional de Eleições e do Provedor dos Direitos Humanos e Justiça. O presidente da República avisou que vai "avaliar a idoneidade" de partidos no Governo para certificar-se de que "não estão envolvidos em atividades que não correspondem às normais de um partido democrático".
O que propõem os principais partidos?
FRETILIN - Atribuir 20% à educação e saúde
A Fretilin propõe-se criar emprego para os jovens licenciados, incentivar o investimento privado e melhorar os serviços de saúde e a educação, mas tem reservas quanto ao aumento do salário mínimo nacional. Defende a atribuição de 20% do orçamento para a educação e a saúde e levar a fibra ótica para Timor.
CNRT - Diversificar a economia
O CNRT promete aumentar os salários dos professores, melhorar o abastecimento de medicamentos e a saúde materno-infantil, promover a diversidade económica, explorando também ouro e mármore e a agricultura, o investimento privado e levar para Timor o oleoduto que liga à Austrália e concretizar a adesão à Associação das Nações do Sudeste Asiático.
PLP - Recuperar Fundo para os veteranos
O PLP propõe-se valorizar os veteranos e recuperar o Fundo que o Tribunal de Recurso considerou inconstitucional, bem como resolver os problemas de habitação e de ordenamento do território.
PD - Emitir bilhetes de identidade
O Partido Democrático (PD, com cinco eleitos) quer criar tribunais em cada município, emitir passaportes e bilhetes de identidade e assegurar os direitos à propriedade privada e às heranças, melhorar os serviços de hotelaria, atribuir bolsas de transporte e computadores a estudantes e melhorar os centros de saúde e a rede de estradas rurais.
P-KHUNTO - Agricultura e turismo
O P-KHUNTO promete criar grandes hospitais em várias regiões e especializar profissionais no estrangeiro, quer promover a agricultura, sobretudo a produção de arroz, criar condições para o turismo em cinco sítios importantes, requalificar professores para melhorar o ensino e aumentar o acesso à eletricidade e água potável e estradas nas zonas rurais.
Pormenores
O mais jovem Estado - Colónia portuguesa até 1975, Timor-Leste foi anexada nesse ano pela Indonésia, restaurando a independência em 20 de maio de 2002, sendo o mais jovem Estado.
País pobre - É um dos países mais pobres do Mundo: 42% dos 1,3 milhões de habitantes vivem abaixo do limiar da pobreza.
Inscritos recorde - Nos cadernos, estão inscritos 890 145 eleitores, o maior número de sempre, com um aumento de 3,55%.
Emigração acelerada - O número de eleitores inscritos fora do país - 11 800 - aumentou em 65,89% em relação às eleições presidenciais de 2022, o que traduz uma forte aceleração da emigração. Em Portugal, estão recenseados 1836 eleitores timorenses, mas o maior número (3710) reside em Inglaterra.