Com uma pausa no avanço da operação militar russa no sul e nos arredores de Kiev, fruto da defensiva ucraniana, as tropas de Putin dizem que o "objetivo principal" é tomar Donetsk e Lugansk. As autoridades ocidentais dizem que a Rússia está a criar pelo menos dez novos grupos táticos para concentrar esforços em Donbass.
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Numa espécie de atualização à imprensa russa sobre os feitos das tropas de Putin na Ucrânia durante o primeiro mês de invasão, Sergei Rudskoi, primeiro vice-chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas da Federação Russa, garantiu que o desgaste provocado nos militares ucranianos permite, agora, à Rússia, concentrar-se no "objetivo principal": capturar as províncias de Donetsk e Lugansk.
De acordo com o Instituto para o Estudo da Guerra, com sede nos Estados Unidos, "a campanha inicial do Kremlin visava realizar operações aéreas e mecanizadas para capturar Kiev, Kharkiv, Odessa e outras grandes cidades ucranianas para provocar uma mudança de governo" no país. Por isso, as autoridades ocidentais, escreve a BBC, acreditam que as afirmações do general Rudskoy significam que Moscovo sabe que a sua estratégia pré-guerra falhou e dizem que estão a ser criados pelo menos dez novos grupos táticos entre o batalhão russo com o objetivo de concentrar esforços em Donbass.
Fonte das autoridades ocidentais, citada pela BBC, acrescenta ainda que este é um sinal de que a Rússia está a reconhecer que "não pode avançar em vários eixos em simultâneo".
Aliás, de acordo com o Ministério da Defesa do Reino Unido, as forças russas "estão relutantes em envolver-se em ataques urbanos de grande escala". Em vez disso, "estão a confiar cada vez mais em bombardeamentos aéreos pesados, procurando limitar as suas próprias perdas consideráveis, ao custo de mais baixas civis".
Latest Defence Intelligence update on the situation in Ukraine - 26 March 2022
- Ministry of Defence (@DefenceHQ) March 26, 2022
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"O Estado-Maior russo está a tentar ajustar a narrativa da guerra para fazer parecer que a Rússia está a atingir os objetivos e a optar por restringir as operações quando, na verdade, não está. Está a ser forçada a abandonar as operações ofensivas em grande escala devido aos seus próprios fracassos e perdas, bem como a contínua e hábil resistência ucraniana", conclui o Instituto para o Estudo da Guerra.
Ao "The New York Times, Pavel Luzin, analista militar russo, alertou que as declarações públicas dos comandantes militares russos devem ser vistas com ceticismo. Apesar de existir a possibilidade de a Rússia estar, realmente, a reduzir os seus objetivos de guerra, a declaração do general Rudskoi também pode ser uma simulação, avisou Luzin, já que a Rússia se prepara para uma nova ofensiva.
Ucranianos mantêm luta nos arredores de Kiev
As forças ucranianas continuam a controlar as grandes áreas ao redor de Kiev, especialmente no sul. Nos últimos dias, recorda a BBC, a Ucrânia lançou contra-ataques a leste e oeste da capital e recuperou alguns territórios que tinham sido ocupados pelas tropas russas.
O mais próximo que as tropas russas estiveram de Kiev foi a 25 quilómetros do centro da cidade, nos subúrbios de Irpin e Bucha. Mas ainda que os tanques russos se mantenham relativamente afastados do centro, a cidade é vulnerável a ataques aéreos e os bombardeamentos nos arredores continuam a destruir casas e a matar civis.
A leste da capital, em Brovary e Chernihiv, as forças ucranianas também continuam a vencer as tentativas de avanço das tropas russas, apesar de as cidades estarem cercadas por Moscovo.
Pentágono diz que Kherson já não está sob controlo russo
Com os ataques a uma maternidade e a um teatro em Mariupol, o Exército russo conseguiu aproximar-se do centro da cidade. E mantendo-se o objetivo russo de criar um corredor terrestre entre a cidade portuária e a Crimeia, Mariupol está sitiada e as autoridades ucranianas dizem que há cerca de cem mil civis que permaneceram retidos.
Mas algumas autoridades ucranianas disseram ao "The New York Times" que a importância dessa rota pode ser exagerada. Oleksandr Danylyuk, ex-secretário do Conselho de Segurança e Defesa Nacional da Ucrânia, descreveu a ponte terrestre como uma "pequena vitória russa" e disse que o Kremlin quer garantir a tomada de Donetsk e Luhansk para "vender ao público russo como uma potencial vitória" e alimentar a propaganda.
De acordo com o departamento de Defesa norte-americano, "há relatos de que as forças ucranianas destruíram um navio da marinha russa no Mar de Azov, na cidade portuária de Berdyansk, que fica a cerca de 80 quilómetros de Mariupol.
Entretanto, as tropas de Moscovo tentam também avançar em direção a Odessa para cortar o acesso da Ucrânia ao Mar Negro. Mas um contra-ataque ucraniano obrigou o Exército de Putin a parar em Mykolaiv e a regressar a Kherson. Na sexta-feira, fonte da defesa dos Estados Unidos disse à BBC que existia a possibilidade de, nos próximos dias, as forças ucranianas reconquistarem a cidade, a primeira a ser tomada pelas tropas russas.
Aliás, de acordo com o Pentágono, citado pelo "The New York Times", as forças russas já não terão o controlo total do porto de Kherson e a cidade será, agora, "território contestado".