Tropas regulares apoiadas por coligação "progridem bem", mas falta definir o futuro após a reconquista.
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A ofensiva das forças iraquianas, apoiadas por milícias sunitas e xiitas, tropas curdas e vários países da NATO, aproxima-se de Mossul, o bastião do autodesignado Estado Islâmico (EI), que se prepara para vender por elevado custo de vidas a queda de uma cidade cujo futuro permanece uma incómoda incógnita.
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Quinta-feira, em Paris, uma conferência de duas dezenas de países vai "discutir o futuro político de Mossul", segundo o ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Jean-Marc Ayrault. "É preciso antecipar, preparar o "dia seguinte" e a estabilização de Mossul depois da vitória militar".
O objetivo deve-se à fragilidade da exótica aliança que permitiu lançar a ofensiva, juntando forças do exército regular e das polícias iraquianas, peshmergas (força regular do Curdistão autónomo), voluntários sunitas, milícias xiitas treinadas e financiadas pelo Irão e milícias turcas, que o presidente iraniano, Fuad Masum, diz estarem animadas numa "histórica coesão".
O plano de batalha aprovado estabelece que apenas tropas e forças policiais iraquianas entrarão na cidade, mantendo outras, como as curdas, numa linha exterior de segurança. Mas falta o acordo sobre a administração futura da cidade, reclamada pela maioria sunita da região.
Segunda maior cidade do Iraque, hoje com 1,5 milhões de habitantes, Mossul e a província que encabeça estão muito além da importância apenas simbólica para os jiadistas do EI, que a tomaram em junho de 2014.
Situada na região de charneira entre a Turquia, a norte, a Síria, a oeste, e o Irão, a leste, a província de Ninive possui importantes reservas e poços de petróleo (fonte de financiamento fundamental para os jiadistas) e é atravessada por um oleoduto que liga à Turquia.
A relevância geoestratégica de Mossul não deixa indiferentes as forças que operam na região, nem os países vizinhos - incluindo a Turquia, que tanto porfiou em entrar na batalha - nem os países como os Estados Unidos e outros grandes parceiros da reconstrução do país.
"Há um plano de batalha comum, mas não há plano político para o dia após a vitória militar", sintetizava o editorial do diário francês "Le Monde". Embora a vitória esteja longe e se preveja muito difícil.
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O Pentágono afiançou que as forças atacantes progrediam bem e estavam esta terça-feira próximas de atingir o objetivo, apoiadas por raides aéreos da coligação liderada pelos Estados Unidos (a Turquia também diz ter efetuado...). O sítio informativo Iraqui News contabilizava mais de meia centena de localidades tomadas a sul de Mossul e 80% da área libertada.
O pior é que o EI estava a executar o que mais se temia: a utilização de escudos humanos, com centenas de famílias em edifícios que serão alvos militares em Mossul, onde se encontrarão, segundo a Reuters, nada menos que o líder da organização, Abu Bakr al-Baghdadi, e o cérebro em explosivos, Fawzi Ali Nouimeh.
O Comando-Geral das Forças Armadas Sírias, citado pela agência SANA, alegou que os Estados Unidos e a Arábia Saudita urdiram "um plano malévolo" para deixar os jiadistas escapar para a Síria através de corredores seguros em direção a Deir Ezzor, Raqqa e Palmira. O risco da fuga foi reconhecido pelo ministro francês, que defendeu uma ofensiva para reconquistar Raqqa, o outro bastião do EI.
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Comissário europeu receia extremistas
O comissário europeu para a Segurança avisou que a Europa deve estar preparada para um novo influxo de extremistas do "Estado Islâmico" (EI), se as forças iraquianas e internacionais reconquistarem Mossul. "A retomada do reduto do EI no norte do Iraque pode levar a um regresso à Europa de combatentes violentos do EI", disse Julian King ao diário alemão "Die Welt". Mesmo o retorno de meia dúzia de jiadistas representaria uma "série ameaça", observou.