Berlim considera que Londres ultrapassou a "linha vermelha" ao obrigar o diário "The Guardian" a destruir os discos rígidos com informação sobre o escândalo de espionagem dos EUA e ao deter o companheiro do jornalista que divulgou o caso.
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O comissário do Governo alemão para os Direitos Humanos, Markus Löning, criticou abertamente, numa entrevista difundida esta quarta-feira pelo diário "Berliner Zeitung", o comportamento do Reino Unido e classificou-o de "inaceitável".
Na sua opinião, "a linha vermelha foi ultrapassada" no caso "The Guardian", depois de o editor do jornal, Alan Rusbridge, ter assegurado, na terça-feira, que as autoridades de Londres o obrigaram há um mês a destruir as cópias do material entregue por Edward Snowden, o antigo analista da Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês) que difundiu o programa massivo de espionagem dos Estados Unidos à escala mundial.
Na opinião de Rusbridge, o que aconteceu demonstra que "a ameaça contra o jornalismo é real e está a crescer", tal como já tinha manifestado o jornalista Gleen Greenwald, que divulgou o caso e prometeu continuar a publicar os documentos de Snowden.
Löning mostra-se "preocupado" com a situação da liberdade de imprensa e de expressão no Reino Unido, em consequência destes acontecimentos.
Os jornais "The Independent" e "Daily Mail" revelam esta quarta-feira que o chefe do Governo britânico, David Cameron, pediu a um funcionário que advertisse o "The Guardian" sobre as consequências de continuar a publicar documentos fornecidos por Edward Snowden.
Segundo fontes governamentais contactadas pelo "The Independent", o próprio David Cameron deu instruções ao ministro do Gabinete Jeremy Heywood para que este contactasse o jornal "The Guardian" e transmitisse as implicações de revelar mais dados secretos das operações de espionagem realizadas pelos Estados Unidos e Reino Unido.
O comissário do Governo alemão para os Direitos Humanos considerou igualmente "inaceitável" a detenção temporária de David Miranda, companheiro de Greenwald, no aeroporto londrino de Heathrow.
Durante a detenção, a polícia britânica confiscou o computador portátil, o telemóvel, a câmara fotográfica e os dispositivos eletrónicos de David Miranda.
O brasileiro esteve retido durante nove horas em Heathrow, o aeroporto mais movimentado da Europa, quando fazia a escala de um voo de ligação entre Berlim e o Brasil, onde vive com o jornalista Glen Greenwald, que entrevistou o ex-analista da Agência Nacional de Segurança (NSA) dos Estados Unidos Edward Snowden em Hong Kong além de ter publicado várias notícias sobre o programa de vigilância PRISM.
A detenção de David Miranda provocou um incidente diplomático com o Brasil, críticas de associações de jornalistas, organizações civis e a petição do Partido Laborista para a revisão da lei antiterrorismo.
A Scotland Yard defendeu a aplicação da lei, que permite deter e interrogar pessoas em aeroportos, portos e zonas de fronteira, e a ministra do Interior, Theresa May, admitiu que sabia que iam deter David Miranda num aeroporto de Londres, mas indicou que não participou na decisão policial.
O Ministério do Interior do Reino Unido recusou na terça-feira condenar a detenção de Miranda assinalando que "o Governo e a polícia têm o deve de proteger as pessoas e a segurança nacional".
Edward Snowden, ex-analista da NSA revelou em junho através de notícias publicadas nos jornais "The Guardian" (onde trabalha Greenwald) e "Washington Post" a existência de um programa de vigilância de grande escala, que opera em todo o mundo com capacidade para vigiar e armazenar comunicações eletrónicas e ligações telefónicas e que conta com a colaboração dos serviços secretos britânicos.